Artigo | Sobre o consentimento - Época

"A meu ver, duas instâncias. Em primeiro lugar, há um traço do papel do gênero feminino em sociedades patriarcais que dificulta que a mulher reconheça e manifeste claramente seu consentimento. Esse traço é certa educação para a aquiescência da mulher ao desejo do homem. Existe uma pressão social de gênero que obscurece o desejo da mulher. Tanto a personagem de “Cat Person” quanto a mulher que acusou Ansari de abuso podem ter se sentido incapacitadas de manifestar explicitamente sua recusa sexual por causa dessa pressão patriarcal de ceder ao movimento do desejo masculino.
Mas há também uma outra dimensão, irredutível ao gênero. Todo sujeito tem o psiquismo dividido. É muito comum que em interações sexuais o id queira seguir adiante e o superego queira interromper o processo. Imaginemos por exemplo um sujeito casado, que vive sob acordo monogâmico, mas está prestes a ter uma relação sexual com outra pessoa. Ou duas pessoas querendo muito transar, mas ninguém tem preservativo. Em situações como essas, às vezes a relação sexual acaba se consumando de forma subjetivamente dividida. O rescaldo é o sentimento de culpa, que pode levar a uma dúvida retrospectiva sobre o consentimento."
mais na análise de FRANCISCO BOSCO
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