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  • O BRASIL EH O QUE ME ENVENENA MAS EH O QUE ME CURA (LUIZ ANTONIO SIMAS)

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    sexta-feira, janeiro 18, 2019

    Não foi delírio, foi ensaio


    O que assistimos bestificados, nessa primeira semana de janeiro, como se a virada do ano tivesse nos levado a outro país, não foi ao início de um novo governo, mas à implantação de um novo regime político, de traço teocrático-militar-fundamentalista e nitidamente ultraliberal na economia. É preciso entender sua natureza e não apostar que terá vida curta.

    É ilusão também acreditar que os absurdos da semana inaugural foram apenas expressões de regozijo e júbilo, temperados pelo revanchismo, na chegada ao poder. O presidente Bolsonaro tomou posse e prosseguiu brandindo a retórica de guerra ao “inimigo interno”, especialmente PT, esquerda, jornalistas e veículos de comunicação (exceto as duas TVs amigas). Ao contrário do que alguns esperam, ele não vai descer do palanque nem abrandar o discurso, pois isso é próprio da natureza do regime e faz parte de sua estratégia. 

    Engolimos com naturalidade a proclamação de inverdades, como a de que ele veio libertar o país do socialismo que nunca passou por aqui, ou a de que foi esfaqueado por “inimigos da pátria”, apesar da conclusão da PF, de que foi obra solitária de um desequilibrado. E tome tuitadas contra ONGs, índios e destruidores da família e dos bons costumes, com ministros da tropa ideológica fazendo coro. Quando se aventurou a falar sobre ações de governo, Bolsonaro explicitou seu despreparo, trombando com a própria equipe: confirmou um falso aumento de imposto, falou em idades mínimas de aposentadoria que desacreditam a reforma pretendida e questionou a fusão Embraer-Boeing, que os privatistas de Paulo Guedes aplaudem. 

    A semana inaugural não foi um happening de chegada, foi ensaio do que virá. A cruzada contra a esquerda, a imprensa, a ideologia de gênero, o marxismo cultural, a doutrinação e erotização das crianças, entre outras assombrações, vai continuar, enquanto as alas operacionais do governo (militares, Guedes e Moro) fazem seu trabalho. É preciso fidelizar os 39,2% de eleitores que elegeram Bolsonaro (em votos válidos), e danem-se os outros 60,8% que não votaram nele, votando em branco, nulo ou não comparecendo.

    As abobrinhas ideológicas entretem, deixando em segundo plano o desmonte de tudo o que significou avanços sociais e civilizatórios. E não estou falando de governos petistas, mas do pacto firmado na Constituição de 1988. Rompido para que o PT fosse tirado do governo, levou à eleição de Bolsonaro. Por tudo isso, ele não vai descer do palanque.

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