A imprensa precisa fazer autocrítica

"Não, o candidato do PSL não é engraçado ou “meio Sérgio Mallandro”, como ouvi há alguns dias de colegas jornalistas. Ao contrário dos mitos, ele é real e seu discurso propaga a intolerância, reverberada por eleitores mais extremistas. Os últimos dias tornaram-se pesadelos para milhões de pessoas no Brasil, o lugar onde mais se mata LGBTs no mundo – entre 2016 e 2017, o número de mortes aumentou 30% e se deu em sua maioria, adivinhe, por arma de fogo. Nos banheiros e muros, proliferam mensagens de ódio decoradas com tristes suásticas tupiniquins. Um aluno gay, morador de Caruaru, agreste de Pernambuco, passeava na rua quando um homem, de moto, aproximou-se e gritou “o capitão vai acabar com essa raça”. Em Recife, um amigo, promotor de Justiça, estava em uma fila, ao lado de seu namorado, quando ouviu ameaça semelhante: “Isso já já vai acabar.” Outro amigo estava com os filhos e uma colega que usava uma camiseta #EleNão quando vários adolescentes – sim, adolescentes – quase os agrediram na rua.
Assim, a imprensa precisa perguntar para a maioria dos LGBTs, pretos e mulheres se eles e elas acham o candidato polêmico. Se o acham controverso. Engraçado. “Meio Sérgio Mallandro.” Para indígenas, quilombolas. Para as pessoas que trabalham com movimentos sociais. Para quem está deixando de usar uma camiseta vermelha ou um #EleNão com medo de ser espancado. O jornalismo que está agora atônito, dizendo que estamos vendo a ascensão de uma população violenta até então silenciosa, não percebe que um naco considerável dessa violência, a que deseja o extermínio do que é visto como diferente, sempre acompanhou milhões de brasileiras e brasileiros que vivem nas faixas mais pobres. Ela, agora, amplia-se e mostra-se à luz do dia, atingindo setores da classe média e da elite intelectual – com destaque para os jornalistas."
mais no artigo de Fabiana Moraes
A imprensa precisa fazer autocrítica: Foram anos tratando o inaceitável como controverso ou mesmo engraçado