Fabiana Cozza: “Eu não sou uma vítima” | Opinião | EL PAÍS Brasil

"Com um mês de vida meu pai me levou na quadra pra ser meio que batizada. Então, quando a velha guarda do Camisa Verde e Branco (uma das escolas de samba mais tradicionais de São Paulo), que me viu praticamente nascer, me viu cantar, eles choraram todos, todos. Nunca me esqueci desse dia. Então, essa é a minha negritude. Aí está a minha negritude. Nos meus espelhos, na minha herança familiar, no meu fazer diário, na minha religiosidade, na comunhão com tantos amigos não negros de pele. No meu canto que vai pro mundo e não tem limites e não se curva ou se intimida a despeito dos desafios e restrições que eventualmente surgem no caminho. Minha negritude fala alto. Quando a Omara Portuondo (grande cantora e dançarina cubana) me chama de negra, quando a Dona Ivone me chamava, quando os meus amigos me convidam pra roda de samba, quando sou recebida pelo Congado da Maria do Bairro de Aparecida, em Minas, quando eu saio com o Tizumba tocando no desfile da Festa do Tambor das Irmandades de Moçambique, quando eu canto o Monsueto (Menezes) na Sala São Paulo com a Jazz Sinfônica de São Paulo, pra uma plateia que não tá acostumada a ouvir Monsueto, quando tem um episódio desses e eu chego na universidade e as pessoas querem saber do que se trata. Porque, pra essas pessoas, essa é uma questão distante. Mas, pra mim, não. É uma questão do meu quintal."
leia entrevista feita por Eliane Brum
Fabiana Cozza: “Eu não sou uma vítima” | Opinião | EL PAÍS Brasil: Em entrevista exclusiva, a cantora fala pela primeira vez sobre a renúncia ao papel da grande dama do samba, Dona Ivone Lara, devido aos protestos por não ser tão preta quanto a personagem