Eliane Brum: O Brasil desassombrado pelas palavras-fantasmas | Opinião | EL PAÍS Brasil

A tia da menina deu um depoimento cortante porque desesperado e desesperador. Ela diz: “Alguma coisa tem que acontecer pra acabar com isso! Alguém tem que fazer alguma coisa!”. E ela diz: “A Polícia Militar entrou na casa dela sem ser convidada e sem ter permissão pra entrar. Não pode entrar na casa de ninguém atirando!”.<br>
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Ela diz o óbvio: “Não pode entrar na casa de ninguém atirando”. Ela nomeia o absurdo. Mas crianças como Vanessa seguem morrendo sem sequer ganhar ...as manchetes da maioria dos jornais. Apenas um espasmo e logo viram estatística. E se o absurdo é nomeado, é dito e é repetido e nada muda, o que fazer para que as palavras voltem a dizer? Para que as palavras deixem de ser espectros desencarnados que apenas atravessam sem produzir marca?<br>
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