A noite, o chão e mais nada: um perfil da crescente população de rua do Rio

"Um vento gelado corta a Avenida Marechal Câmara, no Centro, no meio da madrugada. Sentado sobre um papelão e duas cobertas, enrolado numa manta velha, Luiz Cláudio, de 45 anos, é o único acordado. Ao seu redor, o silêncio de dezenas de pessoas que se encolhem na calçada e uma imensidão de incertezas, os motivos da angústia que lhe tira o sono há sete meses. Ex-aluno de uma faculdade de História, ele já foi bancário, almoxarife e operário. No ano passado, quando o desemprego ...apertou na cidade mineira de Juiz de Fora, onde vivia com a família, decidiu jogar a sorte no Rio. Até agora, só perdeu. O dinheiro acabou; ele não conseguiu trabalho. Luiz Cláudio se juntou a uma legião de 14.279 pessoas, segundo um levantamento da prefeitura, que têm nas ruas do Rio o único pouso. Tornou-se um dos muitos rostos de uma convulsão social notada a cada esquina carioca, agravada pela crise econômica. Os caminhos dessa gente, quase sempre, são invisíveis à maioria.
Para muitos, se você está na rua, é drogado ou ladrão. Você vira um pária, fica à margem da sociedade. Não quer dizer que seja um bandido. É um “nada” — diz Luiz Cláudio, que ainda não criou coragem de contar sua situação à filha, de 18 anos, para não deixá-la “desesperada”."
LEIA A REPORTAGEM DE RAFAEL GALDO e THALITA PESSOA FOTOS: ALEXANDRE CASSIANO