Fragmentos de textos e imagens catadas nesta tela, capturadas desta web, varridas de jornais, revistas, livros, sons, filtradas pelos olhos e ouvidos e escorrendo pelos dedos para serem derramadas sobre as teclas... e viverem eterna e instanta neamente num logradouro digital.
Desagua douro de pensa mentos.
segunda-feira, maio 01, 2017
GREVE GERAL: A VOLTA DA CENTRALIDADE DO TRABALHO
de MARINGONI 1. A greve geral desta sexta (28) se constitui, em seu conjunto, em
uma das mais expressivas manifestações populares da História do Brasil. A
lembrança mais recorrente tem sido compará-la aos movimentos paredistas
de 1983 e 1986.
2. É preciso ajustar a régua. Há uma grande
diferença qualitativa. Em 1985, a economia brasileira vivia o ápice da
participação da indústria na composição do PIB: 27,5%, porcentagem de
país altamente industrializado. Hoje esse número está em torno de 10%.
3. Isso ensejou, ao longo dessas três décadas, o advento de inúmeras
teorias dando conta da perda da centralidade do trabalho na sociedade e,
logo, na organização social, em favor de outras pautas relevantes.
4. Essa é a primeira lição a se tirar do vulcão desatado a partir das
ameaças da perda dos direitos trabalhistas e previdenciários: o que toca
a vida concreta das pessoas, sua sobrevivência e o mundo da produção é o
trabalho. Embora tenhamos importantes agendas laterais, como corrupção e
direitos de setores específicos, o que unifica os de baixo e faz tremer
os de cima é o trabalho. A classe dominante interveio nessa questão e
provocou um curto-circuito que não esperava.
5. Assim, a
efervescência social desatada a partir dos protestos de 15 de março e
potencializados dia 31 só tendem a crescer. Mas essa tendência se dá de
uma maneira também distinta às chamadas jornadas de junho de 2013. Agora
há foco, direção, tática e estratégia. Sua base são os setores
organizados e em processo de organização. Não há espontaneísmo.
6. A marca mais auspiciosa é a inédita unidade de ação entre todas as
centrais sindicais e praticamente todos os movimentos sociais. Ao
avançar sobre os direitos do trabalho, o governo Temer conseguiu fazer
convergir contra si forças que há décadas não se juntavam.
7. O
sentimento de vitória e de que a conjuntura mudou contagia ativistas,
lideranças e rompe a bolha da militância de esquerda, fortemente
minoritária no país. Mais que a conjuntura, a agenda nacional foi virada
de ponta-cabeça: os de baixo podem definir os rumos do país.
8. O
golpe faz água. A aprovação, nesta semana, da reforma trabalhista na
Câmara foi um espasmo, apesar dos 296 votos que obteve. Com toda a
pressão, chantagem e compra de apoio, a administração federal não tem
nenhuma segurança de que aprovará a mãe de todas as reformas, a das
aposentadorias, para a qual necessita de quórum qualificado.
9.
Mais do que isso: não há segurança de que mesmo a trabalhista - que pede
maioria simples - seja aprovada no Senado. Renan Calheiros abriu clara
dissidência, premido por sua necessidade de sobrevivência política e
pessoal. Caso não se reeleja em 2018, seu mais provável destino é a
cadeia, nas águas da Lava-jato. Sabedor da baixíssima popularidade - 4%!
- do governo, o prócer das Alagoas não quer afundar junto com o barco
avariado no qual é tripulante.
10. Nas disputas entre a direita
para 2018, um personagem tenta ocupar o centro da cena na base da
cotovelada. Trata-se do saltitante João Dória Jr., prefeito de São
Paulo. Ele se tornou figura de destaque da greve geral ao buscar matar
no peito e desafiar o movimento social. Anunciou a proibição da
realização do ato de 1o. de Maio na avenida Paulista, cartão de visitas
da cidade. As centrais bancaram o jogo e disseram não arredar o pé de
lá.
11. Para lograr seu objetivo, Dória terá de se armar com um
aparato repressivo de proporções exageradas. Embora tudo seja possível e
o equilíbrio - como tem ficado claro - não seja o seu forte, é pouco
provável que, após o dia 28, obtenha unanimidade entre a direita
paulista para bancar a brincadeira. Se recuar, fica desmoralizado. Tem
um problema a resolver nas próximas 48 horas. Problema sério.
12.
Assim, o Dia do Trabalhador será o novo desafio do movimento popular. O
sabor de vitória parece indicar um inédito patamar de lutas.