Fragmentos de textos e imagens catadas nesta tela, capturadas desta web, varridas de jornais, revistas, livros, sons, filtradas pelos olhos e ouvidos e escorrendo pelos dedos para serem derramadas sobre as teclas... e viverem eterna e instanta neamente num logradouro digital.
Desagua douro de pensa mentos.
O
fato de ter passado a evitar discutir política com amigos no Facebook
não significa que eu vá deixar de falar de política quando quiser dar
algum pitaco. E acho que esse é o momento, depois de conferir as últimas
pesquisas e análises que dão a vitória de Crivella como certa no Rio.
Dia desses, um amigo que trabalha na campanha do Freixo fez contato
perguntando se eu toparia ser incluído num grupo de discussão formado
por jornalistas e publicitários para dar ideias de como Freixo poderia
virar o jogo na reta final da campanha. Topei, mas não cheguei a receber
qualquer mensagem do grupo. A essa altura do campeonato, já tenho a
impressão de que o jogo está perdido.
Acho que o candidato do
PSOL perdeu para ele mesmo. Não sei se foi a euforia por derrotar o
candidato de Eduardo Paes (e a máquina do PMDB) que o fez ir comemorar
na Lapa com a militância gritando "Fora Temer" e enfatizando, no
discurso, a narrativa do "golpe". Aquele não era o momento para isso.
Bastava olhar a votação dos partidos de centro-direita para saber que
eram os eleitores deles que Freixo deveria conquistar no segundo turno.
Qualquer marqueteiro minimamente eficiente saberia que falar em "golpe"
para eleitores de centro-direita é dar um tiro no próprio pé.
Até
porque, naquele momento, o índice de rejeição de Crivella era o mais
alto entre todos os candidatos, e o de Freixo era o mais baixo. A
tendência, portanto, era que eleitores de Índio e Osório votassem em
Freixo para impedir que Crivella chegasse ao poder. Hoje, basta uma
olhada na caixa de comentários das postagens de formadores de opinião de
centro-direita aqui no Facebook para perceber como esse jogo virou,
mesmo com alguns desses formadores de opinião declarando voto em Freixo.
O grau de rejeição a Freixo em comentários que misturam ódio com
desinformação é assustador. Gente que até bem pouco tempo teria
pesadelos com a possibilidade de termos um prefeito apoiado pela Igreja
Universal, por Garotinho e milicianos, agora declara voto útil em
Crivella. Acreditam que essa mistura explosiva seja menos nociva ao Rio
do que ver o PSOL no poder.
E aí entra o "fator PT". Essa eleição
deixou evidente que, um dos mais danosos estragos que o PT fez ao país
foi o de acabar com a imagem da esquerda. Para muita gente, "esquerda"
virou um palavrão, um demônio a ser evitado. Para a esquerda chegar ao
poder numa cidade em que o candidato da direita tinha rejeição
altíssima, bastava descolar o máximo possível sua imagem do PT. Mas
Freixo e o PSOL fizeram justamente o contrário. Crivella foi ministro do
governo do PT, o PT apoiou Crivella no segundo turno em 2014, mas os
eleitores que Freixo deveria conquistar acham que o PT estará no governo
municipal, por mais que se diga que não é verdade, que apoio não
significa vaga no governo. Como fazer gente traumatizada e cega pela
aversão ao PT acreditar nisso?
E aí acontece o primeiro debate.
Crivella dá a deixa, inúmeras vezes, para Freixo explorar a rejeição à
Igreja Uinversal e a Garotinho. Freixo nada faz, o debate vira uma troca
de ideias de comadres, com Crivella, o mais rejeitado, espertamente
fazendo um discurso mais moderado que aproximava os dois ao invés de
deixar claro para o eleitor a diferença entre ambos.
Pra piorar, o
PSOL começou a sabotar a si mesmo. A ala radical do partido resolveu
afastar todo o eleitorado judeu com uma postagem antissemita em seu
site. A resposta de Freixo condenando isso foi imediata, mas protocolar.
Foi preciso que Jean Wyllys respondesse à altura, mas desde que, ao
contrário de vários de seus companheiros do PSOL, ele se assumiu como
cabo eleitoral de Dilma no segundo turno da eleição presidencial, a
rejeição de Jean Wyllys entre o eleitorado que Freixo precisa conquistar
é estratosférica.
Isso mostra que nessa terra arrasada que a
esquerda brasileira se tornou graças ao PT, o PSOL precisa se reinventar
o quanto antes. Tem excelentes quadros, mas às vezes dá a impressão de
ser um saco de gatos em que se junta desde um militar de direita (o
deputado Cabo Daciolo, já expulso do partido) a radicais de esquerda
como Babá e essa corrente da postagem antissemita.
Enquanto isso,
o município do Rio de Janeiro se encaminha, nesse cenário de falência
em âmbito estadual, para as mãos do fundamentalismo religioso, das
alianças espúrias com o que tem de pior na política (ninguém lembra o
que foram os oito anos de Garotinhos no poder?), com o apoio das
milícias.
O governo Freixo poderia dar errado? Poderia. Mas em hipótese alguma seria tão danoso quanto este pesadelo que se anuncia.