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    domingo, fevereiro 14, 2016

    TV não conseguiu achar uma linguagem para filmar e transmitir o desfile de carnaval,



    De Ivana Bentes

    Vendo da avenida a Mangueira no desfile das campeãs e a linguagem alucinatória e sensorial, corporal, do desfile afrociberdélico, fica claro que a TV não conseguiu achar uma linguagem para filmar e transmitir o desfile de carnaval, que como disse o Marcus Galiña aqui "é a única obra cênica interrompida por repórteres que entrevistam os artistas DURANTE a sua apresentação."

    A transmissão da TV transformou o desfile em uma coluna social, que direciona as filmagens para as celebridades e para os repórteres, interrompendo e atravessando constantemente o samba e a visualidade, trazendo foco para o estúdio da TV e seus convidados, uma espécie de camarote vip que somos forçados a ouvir e a acompanhar para poder ver o desfile pela TV.

    Felizmente esse ano a TV Brasil passou a transmitir também, sem o vipismo. A questão é que o jornalismo televisivo não sabe onde colocar a câmera, não existe uma câmera-foliã, a câmera não interage com os corpos e não capta a tensão entre o pé no chão, os gestos, a alegria singular de cada componente e a monumentalidade e visualidade operística dos carros alegóricos.

    O futebol teve mais sorte! O Canal 100 fez uma revolução nas filmagens do futebol, nos anos 60/70 ao colocar a câmera do ponto de vista do pé dos jogadores (inovando nos ângulos, no movimento, etc.) e criando um tipo de filmagem dramática e participativa que a TV incorporou. O Cinema Novo deu sua contribuição conceitual para o documentário de futebol com um filme extraordinário de Joaquim Pedro de Andrade, Garrincha Alegria do Povo, mostrando como Garrincha pensava com todo o corpo, pensava com o pé! Um filme que interpreta o futebol, que interfere, mas de forma a ampliar sua linguagem e não a reduzí-la.

    Quando vão reinventar a filmagem dos desfiles de carnaval?

    P.S. Alguns artistas e cineastas usaram o carnaval em instalações sensoriais e imagens sensações, Arthur Omar fez esse experimento em toda a série da Antropologia da Face Gloriosa na fotografia e que inspirou Karin Ainouz no filme Madame Satã. Vendo algumas das suas filmagens inéditas do carnaval do Boi de Parintins e do carnaval do Rio, vejo essa câmera-corpo. Prepara uma instalação que se chama "Escola de Samba Virtual" e é obcecado por essa questão de uma câmera-foliã que se joga e queima com os corpos.

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