Breve tratado da imobilidade urbana

"Uma das experiências temporais mais particulares ao Brasil é a repetição. Ela expressa, de maneira quase didática, a resistência imperial do poder à mudança e sua imunidade surda a toda pressão popular. Um dos exemplos privilegiados da força de tal repetição compulsiva diz respeito ao ritual periódico de aumento da tarifa do transporte público. Desde a Revolta do Vintém, lá pelos idos de 1879, a população brasileira sai periodicamente às ruas contra os preços extorsivos das tarifas. Desde aquela época, os governos, sejam eles de que partido forem, respondem à bala.
O resultado final foi muito bem descrito por Lucio Gregori. Gasta-se atualmente 13,5 minutos de um salário médio em São Paulo e no Rio para pagar uma tarifa. Em Paris e Pequim, gasta-se 4,5 minutos e em Buenos Aires gasta-se 2,5 minutos. Esses números resumem bem a irracionalidade de ser obrigado a aceitar um serviço entre os mais caros do mundo e criminosamente ruim. O problema não diz respeito ao aumento de tarifa, mas à aplicação de preços abusivos como se isso fosse uma fatalidade natural e inquestionável."
leia a coluna de Vladimir Safatle
Breve tratado da imobilidade urbana