O que era Doce se acabou
Passei minha infância às margens do Rio Doce, andando de canoa, subindo e descendo o rio, atravessando de um lado a outro numa balsa puxada num cabo por geringonças enferrujadas.
Cheias do rio com as chuvas de verão. Não dava pra passar. Às vezes o jeito era dormir, enrolar o tempo e esperar baixar.
Minha pre-adolescência foi em outro ponto do Rio Doce, mais raso, onde eu nadava, me atirando nas fortes correntezas e agarrando em pedras pra não ir embora. Andando de bicicleta na beirada das águas.
O Doce não é mais o mesmo. Derrubaram a Mata Atlântica, acabaram com os índios, expulsaram colonos das terras...
Um retrato na parede da memória. Mas como dói... acompanhando o lamaçal de dejetos descendo rio abaixo como uma devastidão apodrecendo águas e engulindo faunas, floras, gentes.
Um retrato na parede da memória. Mas como dói... acompanhando o lamaçal de dejetos descendo rio abaixo como uma devastidão apodrecendo águas e engulindo faunas, floras, gentes.