Matamos (?) um rio moribundo!
De ADRIANO PAGLIA
A ministra do meio ambiente anuncia que a recuperação da Bacia do Rio Doce vai demorar uma década. Se foi mesmo isso que ela falou ou não conhece a referida bacia ou não usou de maneira honesta a palavra recuperação.
Para o caso da primeira opção, uma breve descrição. A Bacia do Rio Doce é uma das mais degradadas bacias hidrográficas de Minas Gerais. Está quase toda ela inserida na Mata Atlântica, um dos ecossistemas mais ameaçados do planeta. Minas Gerais tem se esforçado para, ano após ano, ser o estado que mais desmata a Mata Atlântica.
A bacia do rio Doce começa na zona da Mata de Minas Gerais, hoje quase
sem mata. Na sua porção oeste, a bacia recebe, pelo rio Piracicaba,
todos os impactos da exploração de minério de ferro do Quadrilátero
Ferrífero, uma das maiores províncias minerais do mundo. O Médio Rio
Doce ganha um breve alento quando passa pelo maior fragmento de Mata
Atlântica de Minas, o Parque Estadual do Rio Doce. Breve, pois o rio
apenas margeia o parque e logo depois encontra a cidade de Ipatinga e
toda a região metalúrgica do estado. Nessa passagem, sofre com
eucaliptais, pastos abandonados, assoreamento e despejo de esgoto não
tratado. Seguindo em frente, o rio Doce encontra a bela Governador
Valadares, mas um breve inspeção no Google Earth pode lhe mostrar que só
é bela a cidade e o Pico do Ibituruna. Todo o entorno é desmatado.
Difícil é encontrar trechos do rio com sua mata ciliar preservada.
Na parte mineira pelo menos 10 hidrelétricas interromperam o fluxo do rio e desapareceram com as cabeceiras nas quais espécies endêmicas (e hoje ameaçadas) de peixes se reproduziam. No Espírito Santo a situação é quase a mesma, o que muda talvez é o tipo de impacto na bacia. A coisa só vai melhorar quando o rio se aproxima de Linhares e seus lagos, uma região ainda com vegetação nativa, mas sem proteção formal. E o rio Doce chega ao mar, quando consegue, pois a notícia do primeiro semestre era que o rio não conseguia mais chegar ao oceano.
Então, se para o Ministério do Meio Ambiente recuperar a bacia significa voltar ao que era antes do rompimento da barragem, não vai adiantar muito. E se for para realmente fazer alguma coisa além de alardear factóides na mídia, vai gastar bem mais de 10 anos. Mas vamos fazer então. E da maneira adequada. Senão o rio morre mesmo, com ou sem rompimento de barragens.
Na parte mineira pelo menos 10 hidrelétricas interromperam o fluxo do rio e desapareceram com as cabeceiras nas quais espécies endêmicas (e hoje ameaçadas) de peixes se reproduziam. No Espírito Santo a situação é quase a mesma, o que muda talvez é o tipo de impacto na bacia. A coisa só vai melhorar quando o rio se aproxima de Linhares e seus lagos, uma região ainda com vegetação nativa, mas sem proteção formal. E o rio Doce chega ao mar, quando consegue, pois a notícia do primeiro semestre era que o rio não conseguia mais chegar ao oceano.
Então, se para o Ministério do Meio Ambiente recuperar a bacia significa voltar ao que era antes do rompimento da barragem, não vai adiantar muito. E se for para realmente fazer alguma coisa além de alardear factóides na mídia, vai gastar bem mais de 10 anos. Mas vamos fazer então. E da maneira adequada. Senão o rio morre mesmo, com ou sem rompimento de barragens.