Uma Amazônia chamada Genésio

De MAURO VENTURA :

Eu tinha 26 anos – e minha irmã, Elisa Ventura, 25 – quando ganhei um irmão. Um dia, meu pai apareceu lá em casa com um adolescente de 13 anos e anunciou o mais novo integrante da família. Chamava-se Genésio, e era a testemunha chave do assassinato do líder seringueiro Chico Mendes.
Essa transgressão que meu pai diz ter cometido contra uma lei do jornalismo – não interferir nos acontecimentos – era mais do que justificada. Se não agisse assim Genésio seria assassinado.

Ele ficou com a gente durante um bom tempo, e esteve sob a tutela de meu pai até os 21 anos. Não foi fácil para um menino criado no interior do Acre viver numa terra tão diferente. Ainda mais com um histórico como o dele – fora entregue aos 7 anos pela mãe ao fazendeiro Darly, que com o filho Darci arquitetou a morte de Chico. Um homem que encostava a faca na barriga de Genésio na menor das faltas.

O estranhamento foi inevitável. Ele jamais tinha andado de elevador, usado vaso sanitário, comido com garfo. Entrou em pânico quando atravessou um túnel. Teve problemas com álcool e, como diz meu pai, “vivia em estado de eterno exílio”. Mas era um garoto bom.

Agora ele conta toda a sua saga no livro “Pássaro sem rumo – Uma Amazônia chamada Genésio”, que será lançado na terça-feira na Blooks Livraria. Junto ao lançamento haverá um debate reunindo Genésio, meu pai e Marina Silva.

É uma história de coragem, drama, intrigas, internações, perseguição, depressão e superação.