Caio Ferraz, brasileiro descrente

"Você passa sua vida lutando em prol dos excluídos, militando ao lado dos justos em defesa da democracia e dos direitos humanos e, de repente, recebe a notícia de que um parente seu está desaparecido e possivelmente morto.
Diante da impunidade em relação aos homicídios neste país, me sinto um brasileiro descrente. Ninguém irá levar a julgamento o caso envolvendo o assassinato do meu sobrinho, muito menos apontar um culpado.
A dor que minha irmã sentiu é a mesma que sentiram a mãe do menino Eduardo de Jesus [morto a tiros no Complexo do Alemão em abril] e que agora está sentindo a mãe do menino Cristian, de Manguinhos [morto na terça, 8, durante uma operação da polícia na favela carioca].
Também é a mesma dor que sente a mãe de um policial que perde a vida na cruel batalha que tem dizimado centenas neste país.
Vivemos uma guerra que amanhã deixará mais 82 mães chorando porque seus filhos foram assassinados [o número se refere à quantidade de jovens executados no país diariamente, segundo dados da Anistia Internacional]. E, depois de amanhã, outras 82 mães se encontrarão na mesma situação.
Quando for a missa de sétimo dia do meu sobrinho, teremos a ultrajante soma de 574 mães que tiveram que enterrar de forma dolorosa seus filhos.
E, pasmem, em 5 de agosto de 2016, quando o Rio estiver acendendo a tocha dos Jogos Olímpicos, cerca de 27 mil mães terão sepultado seus filhos na guerra mais insana que a história moderna já conheceu: o extermínio de jovens pobres num dos países mais ricos do planeta.
O sofrimento do outro não vale nada neste país"
leia mais no depoimento de Caio Ferraz
BRASIL: VIOLÊNCIA (II) - A ERA DA MALDADE NO PAÍS DA IMPUNIDADE