Sem prosa, sem verso, sem saída : A crise nos suplementos culturais

"O pensamento claro e lógico foi pro brejo, produzimos geração espontânea de mentes consumistas. Estamos atolados de páginas de Economia nos livros e jornais, de ensinamentos de empreendedorismo, de podridão na política, tudo adornado por Comida, Paladar, cadernos Gourmet, e roupas estilosas do Ela. O caderno d’ O Globo chega a ser autofágico. Quando fala de TV então, só dá Globo. E todo mundo mergulhado numa crise monumental que nasceu na existencial."
"O panorama do pensamento é lúgubre neste momento em que as maravilhosas produções do SESC a preços populares vão ter um corte de 30% (adeus peças de Bob Wilson e produções francesas com Isabelle Huppert a R$ 10,00). Uma “catástrofe” para o diretor do SESC de São Paulo, Danilo Miranda. Tudo fica pior diante do meio milhão de zeros na redação do ENEM deste ano. Ou quando os resultados da Avaliação Nacional de Alfabetização revelam que seis entre dez alunos de oito anos no Brasil não resolvem problemas simples de matemática, não sabem ver as horas em relógios analógicos, e um em cada cinco não entende o que lê. A prova incluiu no ano passado 2, 3 milhões de alunos das 49 mil escolas públicas. A região do sul e do sudeste, que era um pouco melhor, vai piorar com essa volúpia de cortes em tudo o que leva o nome de cultura. E mais ainda com a crise que leva os alunos de escola particular a frequentar as públicas, antes consideradas ensino de elite.
Só a Cinemateca de São Paulo, fundada pelo filho de Oswald de Andrade, Rudá, perdeu 50% dos funcionários e o Ministério da Cultura congelou os repasses feitos à Sociedade Amigos da Cinemateca, que geria a casa. A 39ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que iniciou muitos cinéfilos em quatro décadas, perigou não acontecer este ano e abre dia 22 de outubro com 40% a menos de patrocínios. O Festival do Rio dia 1 de outubro vem com déficit de 100 filmes. A excelente temporada de Óperas do Teatro Municipal de São Paulo terá cortes, pelo menos Cosi fan Tutte, de Mozart, já não será exibida este ano e 2016 só apresentará Don Carlo de Verdi, La Bohème de Puccini e Lady Macbeth de Shostakovich – outras três foram para o espaço."
mais no artigo de Norma Couri
Sem prosa, sem verso, sem saída | Observatório da Imprensa – Você nunca mais vai ler jornal do mesmo jeito: