De gatos e cobras
As incessantes exibições & postagens do video com o gato que se atira sobre um cão para defender uma criança prestes a ser estraçalhada me remete a algo que é uma das mais antigas lembranças que eu tenho (e não é pra menos, como veremos a seguir).
Eu tinha tres anos e brincava no quintal da minha casa. A cobra era verde, camuflada entre a grama, e por isso não a vi até que estivesse muito em cima. Ela se assustou e se empertigou toda, sibilante, lingua veloz. Ssssss. A cobra olhando para mim e eu olhando para a cobra. Fascinado, apavorado - ou ambos - não conseguia me mexer. Mas a cobra sim e deu um bote.
No que ela se atirou algo se quebrou no encanto e dei um salto pro lado a tempo da cobra errar a picada. Cai no chão e a cobra se enroscando nela mesma preparou-se pra segunda estocada. Sssss.
Nisso como um raio um rastro de preto veio veloz minha gata Friskie e se atirou sobre o réptil. A cobra e a gata se atracaram. Uma briga ruidosa e nervosa, eu urrava, urrava, com medo por mim, com medo pela Friskie, que estraçalhou a cobra com garras e dentes. Partida, a cobra morreu. Assim como, logo depois, inchada de veneno, estrebuchando, partiu minha gata preta.
Penso até hoje que Friskie salvou minha vida recém-começada. Poderia ter sido eu.
Se houvessem cameras de segurança nos cafundós das fazendas e nos confins do passado Friskie seria uma heroína dos memes.
Mas passa sempre nos meus pesadelos e nas minhas saudades.
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