O
que considero mais interessante na história de “Ai se eu te pego” não é
seu atual sucesso mundial, mas sim o processo de sua composição e
divulgação, antes de chegar aos ouvidos de Michel Teló.
Essa é a característica mais evidente da nossa atual cena musical popular brasileira. Todos os sucessos
são rapidamente rearranjados para todos os ritmos. A maior parte dos
grupos atua como bandas de bailes: não se prende a um repertório próprio
e toca todos os hits do momento. Tudo é funcional.
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Se
os novatos lançassem qualquer canção com cheiro de hit, as bandas mais
populares logo produziriam suas regravações, fazendo sucesso em seu
lugar.
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Outra
noção que parecia sólida, mas está cada vez mais velozmente se
desmanchando no ar, é a de composição. Todo mundo se lembra ainda de
“Minha mulher não deixa não”, o hit do verão passado? A origem do refrão
parece ter sido uma música infantil lançada décadas atrás por uma
gravadora pernambucana. E isso virou problema menor diante da avalanche
de vídeos publicados na internet, com gente fazendo suas versões (claro
que não autorizadas) do sucesso, um respondendo ao outro de forma não
centralizada, numa conversa que não tem fim. Volto a dizer: era assim no
“folclore”. Um grupo “pegava”
a invenção do outro em regime de transformação contínua, sem dono. Tudo
caía na brincadeira. E os participantes eram chamados de brincantes, e
não de autores. Importava o processo, o remix eterno, não o produto
acabado, de um só dono. Como era gostoso o domínio público. Era? É,
será: o domínio público é nosso destino e inapelável futura
cibercondição.
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