SONHOS
Disse para Haroldo Mourão e Felipe Flexa antes de sair de férias: Dessa vez não vou a Salvador, quero ir a um lugar diferente.
Fomos então eu e Ana Pinta para o interior. Na Chapada, ficamos chapados pela beleza agreste. A viagem para lá foi de carona, na boléia de um caminhão que sacudia muito. Ana conversava com os matutos sobre a criação de ovelhas.
No segundo dia acordei cedo e caminhei até a margem de um imenso lago cristalino, silente, profundo que se comportava como um mar, por ter suas marés, nível subindo e descendo no decorrer do dia como a respiração lenta e lunar de ser ancestral caído das estrelas em meio ao sertão baiano. Até onde a vista alcançava. Cansado, me quedei em visita silenciosa.
Quando as águas estão em baixa, me tinha dito Luís Pimentel, voce desce nas pedras pela trilha que começa no poste com a caveira de boi espetada, e chega numa caverna maravilhosa cavada pela água na rocha. De estalactites pingava água tamborilando no solo como os dedos de um gigante entediado. E lá estava Capinan.
- Sou viramundo virado nas rondas da maravilha - ele disse.
Pensei: - Quem me dera agora eu tivesse a viola pra cantar.
Um dia, pra cantar.
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