Sonhos
Eu era o perito encarregado de dar o parecer final sobre o impacto ambiental de uma usina a ser construída no Rio Doce
(região, aliás, onde eu cresci).
Andei por matas recordando os cheiros e as sensações tão conhecidas mas já afastadas,
tão distantes que estão próximas como fumaça,
um bicho correndo daqui,
uma ave voando pra lá,
pondo as mãos na árvores e pensando que tudo aquilo iria acabar.
(Só em sonho mesmo, tudo aquilo deve ter acabado.
Virou pasto, pastagens, morros pelados, barro ou eucalipto
ou cicatrizes de minério cinzento rasgando ventres apodrecidos.)
Por outro lado, ouvia o povo pobre pedindo progresso,
benfeitorias para vidas mal-acabadas.
Mas não era um sonho lírico, era como um conto ou filme de ação,
pressões por todos os lados,
interesses de fazendeiros com seus jagunços,
interesses de poderosos com seus dinheiros,
promessas & ameaças.
Tinha até o componente romantico, uma bela ambientalista com ideais ainda mais belos.
Como geralmente acontece, o sonho não teve final,
não sei qual seria o laudo,
antes de eu dar um parecer
o sono foi desaparecer
partiu e sumiu para onde vão as coisas dormidas.