Palavras
Bengalo-me por um ou dois quarteirões da Vieira Souto. O verbo "bengalar" não existe, mas eu uso uma bengala e, como estou no Brasil, passa a existir. Aqui se inventa, aqui se dá asas ao homem, aqui se planta, aqui se dá. Mas eu me bengalava. Pego um táxi. Sugiro uma volta pela praia com voz tristonha de manco (para que não me assalte e mate), mesmo sentado no banco de trás. Peço que vá devagar. De onde dá para se ir, no Arpoador, aquele edifício pó de pedra, que era o único que driblava o gabarito de quatro andares (isso, como tudo o mais, nunca ficou claro) até a subida para a Niemeyer, é uma jaula só. Pobres ricos, pobres elites, pobres classes dominantes, tudo vivendo atrás de grades, guardadas por nordestinos incompetentes com calça azul-marinho e camisa branca puídas. Visualizo as classes abastecidas, à noite, uivando em seu cativeiro. Os porteiros fingindo não ouvir, afiando suas peixeiras. .
- Ivan Lessa
"Eu conheço esse cara"
"Eu conheço esse cara"
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