BAD MARIA
Como me interesso enormemente pela epopéia da ferrovia Madeira-Mamoré, me dispus a tentaracompanhar a minisÃ?´série da Globo baseada livremente no Mad Maria de Márcio de Souza.
O capricho e o esmero das produções da Globo sao esmeradamente caprichados. Fotografia, iluminação, produção de época, excelentes (embora a produção muito limpinha, e abusando dos efeitos de computação, conferindo certa artificialidade a um cenário que, já que houve expedição de equipe ao local, poderia ser mais explorado).
Músicas individuais da trilha sonora também boas, embora em sua execução houve um excesso de temas melosos comprometendo a audibilidade nos momentos romanticos.
A abertura também impressiona, com fotos de época alternando-se com fotos das filmagens tratadas como fotos de época e os trilhos de ferrovia virando fios vermelhos de sangue.
A questão maior é a história. Grandes acontecimentos históricos novamente viram pano de fundo para paixãozinhas paralelas (vide a condensação de 400 anos de historia paulista em um só coração). A saga da construção insana da ferrovia teria dimensões maiores se contada principalmente do ponto de vista da gente do povo que a construiu e não dos bastidores e intrigas enfadonhamente palacianas.
Talvez pretendam fazer isto com o núcleo do médico idealista que se embrenha na selva mas por enquanto sua história está artificial demais. As cenas mezzo Fitzcarraldo mezzo O Piano de Ana Paula Arósio subindo o rio numa balsa tocando O Guarani num piano seriam inesquecíveis se tratadas de outra forma. Talvez seja isto: a direção está solta.
E o roteiro avança assim: TUM! TUM! TUM! As informações colocadas isoladamente e excessivamente didáticas.
Isto foi no primeiro capítulo.
No segundo desanimei de vez de acompanhar. Não aconteceu rigorosamente nada. Foi uma noite de enrolação de linguiça pra completar o tempo. Passa a carruagem e Antonio Fagundes olha por horas para a Priscila Fantini, que depois passará outras horas em pé na rua onde mais venta no Rio de Janeiro repetindo Ele vai voltar...
O que foi bem colocado no primeiro capítulo: o poderoso J de Castro (Fagundes) contratando uma mulher em segredo para montar-lhe uma casa (onde pretende capturar a rolinha Fantini), mulher esta escolhida justamente pela sua discreção e - como ela mesma diz - Não farei perguntas
esfacela-se no segundo capítulo quando justamente ela faz perguntas
e o poderoso e discreto J abre-se em confidencias
que servem para esmiuçar em detalhes ao espectador aquilo que já ficou evidente
e também para encher mais dois blocos do tempo da noite.
Tudo o que escrevi porem empalidece diante desta crítica publicada no Globo de hoje e que merece ser reproduzido em todos os anais do Jornalismo:
Uma obra que deve ir para a estante