Via IRIS: Heaven´s Gate (Michael Cimino, 1980)
O célebre fiasco que faliu a United Artists e amaldiçoou Cimino para sempre. O filme que estourou seu orçamento em 400% e rendeu inicialmente 5% de seus custos. A produção interminável que se arrastava e nunca ficava pronta, numa espécie de Chatô, e que resultou num filme de mais de cinco horas de duração (exibido nos cinemas com duas horas e muito, disponivel agora em DVD numa versão de tres horas e meia).
Quando vi Heaven´s Gate nos anos 80, gostei muito do filme. Talvez um pouco em reação a tanta crítica negativa e defendendo os percalços do criador insano diante da indústria cerceadora. Agora o vi novamente sob um distanciamento e percebi como é realmente inchado (bloated would be a correct term) e perambulante sem coesão.
O prêambulo ´(20 anos antes) é longo e sem precisão (tanto no sentido de preciso quanto no de necessário). O curto epílogo (20 anos depois) então jánão faz mais sentido. O miolo tem uma ótima historia - a partir de um massacre real de imigrantes no Oeste americano - mas não se sabe contá-la com maior impacto além do deslumbrante aspecto visual.
Porque visualmente o filme tem grandes momentos (leia-se Vilmos Zigmond), principalmente nas grandes cenas de movimento intenso como nas danças (compare a academica e circular em Yale com a caótica e retangular na roça). Mas a cena da batalha central à história - outra cena de superprodução - resulta destroçada.
Enfim, percebi como é uma obra pretensiosa e egomaníaca que se perde nos desvãos desta própria pretensão. O portão do paraíso dá no purgatório da falta de foco e sensibilidade. Cimino era bom mesmo pra caçar veados (the Deer Hunter).