PALAVRAS
Cá de baixo, vergando o pescoço para conferir o progresso da ocupação dos morros pelos barracos ou olhando para os lados das vias expressas e das avenidas, a mancha escura dos tetos de zinco na teia de vielas e becos nos planos dos brejos e lamaçais onde milhares sobrevivem em condição subumana, quantos e quantas vezes não se perguntaram, na perplexidade impotente dos pagantes de impostos, taxas e juros da cascata da exploração:
E não se fez nem se faz nada para tentar enfrentar o desafio da degradação do Rio?
A mesma angústia acompanha os moradores de São Paulo, de Belo Horizonte, de Recife, da maioria das capitais, das grandes e médias cidades de todo o país, vítimas indefesas do infortúnio da falência dos governos, da desmoralização da autoridade, da crise ética que corrói como cupim os tres poderes na orgia das mordomias, do nepotismo, do empreguismo e engasgada pelo papelório burocrático que entope gavetas, armários, prateleiras, arquivos e se espalha em montes pelo chão.
Villas-Boa Corrêa
"A Ruína Programada"
"A Ruína Programada"