NOVE DE JULHO
Veio o tempo cinza.
No tempo cinza tem lama e barro.
Vento sopra gelado.
A revolta do mar revira o fundo da baia e os peixes pululam devorando os detritos.
Com isso as gaivotas voam em bando.
Riscos negros contra ceu cinza.
Apos a noite de tempestades gosto de andar entre as pedras da ponta da ilha, na maré baixa, para ver o que veio. O mar traz tesouros sortidos: principalmente garrafas PET.
Mas chinelos, peças de roupa, bonés,
cabeças de bonecas, pés-de-pato rasgados,
hoje deu à praia uma caneta tinteiro.
Carregada de água salgada.
Noutro dia achei uma carteira, com vários papéis encharcados e restos de documentos.
Inindentificáveis, lavados, como se um náufrago batesse aqui desmemoriado, sem saber seu nome.
À tarde numa virada deserta chegou um cadáver de cão carcomido por peixes e vermes marinhos. Me afastei depressa e vieram os urubus terminar o serviço.
Passei o dia percorrendo papéis antigos, esvaziando caixas, coisas que escrevi, coisas que vivi. E fotografias.
É noite e estou sozinho na ilha de paquetá. Bem de acordo com o clima sombrio, enquanto o vento apita pelos galhos e a chuva tamborila as telhas, instalei e vou começar um jogo de terror no computador.