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    domingo, dezembro 04, 2022

    Canário, Pombo e Jabuti

     

     

    Se a cultura popular do futebol se bifurcou, a alta cultura pendeu para um lado

     

    de ANGELA ALONSO


    A eleição acabou, mas no jogo para decidir quem representa o país a bola segue rolando.
    A discórdia ganhou a forma da camisa da seleção. A Copa deu a oportunidade para democratas, sobretudo de centro e esquerda, resgatarem a canarinho. No primeiro jogo, a equipe de transição, o presidente e o vice se fizeram fotografar trajando a amarelinha. Entraram de sola na disputa pelo que tinha se tornado marca bolsonarista.
    A estreia do Brasil na Copa levou a clivagem política para o gramado, escalando Richarlison e Neymar, dois nomes bem brasileiros. As redes sociais balançaram mais que as dos estádios, em comparações. Jogo virtual, mas muito concreto, no qual cada jogador vestiu um país.
    O do bolsonarismo ficou com o menino Ney, que prometera dedicar gol a certo palmeirense macambúzio. Mas, em vez de enfiar a bola nas redes, arrebentou o tornozelo. O outro lado enalteceu Pombo em verso, prosa e imagem: seus pés formando o L. Além da beleza do lance, ressaltaram-se as qualidades cívicas do atleta, da campanha pela vacina ao pagamento de impostos. Neymar foi tido e havido como craque de outro esporte, o alpinismo social, traidor das origens. Pombo, como quem as honra, representa e defende, por palavras e gestos –inclusive monetários. Dois artilheiros, dois modelos de nação, o egoísta e o solidário.
    Se a cultura popular do futebol se bifurcou, a alta cultura pendeu para um lado. O Jabuti teve júri variado em raça, gênero e geração e premiou assuntos -vários relativos à escravidão -e autores politicamente quentes. Aliás, autoras. As mulheres abocanharam 13 dos 20 jabutizinhos e uma levou o jabutizão, o livro do ano -quinta vez em 29 edições do prêmio.
    A Flip tomou mesmo rumo. Nem parece a feira na qual choveram reclamações quando Fernando Henrique Cardoso foi falar de Gilberto Freyre. A deste ano foi crítica do mito da democracia racial. Maria Firmina Reis, autora de romance pioneiro na tematização da escravidão, foi a homenageada, embora não seja, assim, um Machado de Assis.
    Do mesmo modo, editoras, museus, festivais e assemelhados têm privilegiado as dimensões étnicas e de gênero na triagem de artistas e obras. Nos espaços de cultura erudita, posições simbólicas e de prestígio até outro dia dominadas por brancos homens bem-nascidos viraram de ponta-cabeça.
    A atitude, contudo, não se propaga tanto quanto cadernos e comentaristas de cultura levam a crer. Não recobre nem mesmo todo o perímetro da cultura. Afora dos nichos moderninhos, há uma escalação inteira de artistas no lado bolsonarista do campo.
    Isso sem contar a elite social mais efetiva, que não vive de prestígio, mas de fazer dinheiro. Boa parte desses bolsos bem fornidos joga no time de Neymar. São os que assistem a partida em sala vip no Qatar, como o sócio da Domino's Pizza, e se exprimem no seu mesmo linguajar xucro.
    A ofensa a Gilberto Gil suscitou enxurrada de cartões vermelhos, mas evidenciou que para uma ala do topo social sua obra resplandecente não significa nada. Como nada significa para a arquibancada que toma chuva nos acampamentos intervencionistas - aliás, uma réplica de táticas dos "comunistas" MST e MTST. Vivem noutro país, com outros valores e outros ídolos.
    Lula disse no discurso da vitória que não há dois Brasis. Mas o grande desafio de seu governo será abrigar sob o mesmo escudo estes dois times de brasileiros, que se desprezam mutuamente.
    FOLHA

     

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