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  • O BRASIL EH O QUE ME ENVENENA MAS EH O QUE ME CURA (LUIZ ANTONIO SIMAS)

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    Fragmentos de textos e imagens catadas nesta tela, capturadas desta web, varridas de jornais, revistas, livros, sons, filtradas pelos olhos e ouvidos e escorrendo pelos dedos para serem derramadas sobre as teclas... e viverem eterna e instanta neamente num logradouro digital. Desagua douro de pensa mentos.


    segunda-feira, agosto 09, 2021

    O Brasil que amo

     



    ESTHER SOLANO


    Tinha me prometido não escre-
    ver sobre Bolsonaro esta sema-
    na, mas chegaram as Olimpía-
    das, a Rebeca, a prata, depois o ouro e...
    chupa, Bolsonaro! Sou fã absoluta e in-
    condicional do atletismo, da natação e
    da ginástica artística. Sigo os respecti-
    vos mundiais e aguardo ansiosa a cada
    quatro anos o momento mais espera-
    do para os amantes dessas modalida-
    des. No último ano foi uma apreensão
    não saber se haveria Tóquio 2020, Tó-
    quio 2021 ou Tóquio nada. Então, os jo-
    gos começaram e parei para acompa-
    nhar. Não me liguem nem me escre-
    vam, a não ser que o mundo vá acabar.
    Passo os dias com o nariz colado na te-
    vê. Assisto a tudo desses três esportes.


    Chega o turno da ginástica artística.
    A norte-americana Simone Biles come-
    ça dando uma lição ao mundo. A pessoa
    antes do mito, a vida antes do pódio, a saú-
    de antes da medalha. Exemplo, força e co-
    ragem. E seguiu Rebeca. Quem não cho-
    rou, nem sequer uma dessas lagriminhas
    que sufocam a respiração por uns segun-
    dos, é que não entendeu a grandiosidade
    do símbolo que estava em jogo nessa pra-
    ta e depois nesse ouro. Ou talvez os fas-
    cistas choraram de raiva, porque nessas
    conquistas estava simbolizado tudo o que
    eles odeiam e tentam destruir.

    "Durante muito tempo, as pessoas
    disseram que as pessoas negras não po-
    deriam fazer alguns esportes. E a gente
    vê hoje, a primeira medalha (da ginás-
    tica olímpica feminina brasileira) é de
    uma menina negra. Tem uma represen-
    tatividade muito grande atrás de tudo
    isso (...) É uma mulher, uma menina que
    veio de uma origem muito humilde, foi
    criada por uma mãe-solo como a dona
    Rosa, porque o pai da Rebeca é vivo,
    mas não é presente na vida dela, aguen-
    tou tudo que ela aguentou, todas as le-
    sões e está aí hoje, para ser a segunda
    melhor atleta do mundo. Uma brasi-
    leira”, resumiu Daiane dos Santos, ao
    transmitir a prata de Rebeca. Daiane
    resumiu o Brasil, resumiu a dor de mi-
    lhões de brasileiras. Não vou esquecer
    Rebeca no pódio, mas tampouco vou
    esquecer a fala de Daiane, a pioneira,
    a que abriu os caminhos.


    Horas depois da vitória, que foi uma
    vitória para o mundo, a mãe de Rebeca,
    Rosa Santos, deu uma entrevista emo-
    cionante ao portal UOL, na qual nar-
    rou as dificuldades que, como mãe-so-
    lo, pobre, periférica, teve para criar
    a Rebeca e seus irmãos e ajudar a gi-
    nasta a cumprir seu sonho olímpico.


    “Muitos me criticaram na época, por-
    que logo aos 9 anos ela foi morar fora,
    foi se dedicar aos treinos. Diziam ‘vo-
    cê é doida de deixar sua filha ir embo-
    ra’. Mas eu tive a sabedoria e a mente
    aberta para deixá-la seguir seus sonhos.
    Deixei que ela voasse atrás de um ob-
    jetivo, deixando também claro que, se
    não desse certo, as portas de casa sem-
    pre estariam abertas para ela. Hoje eu
    vejo que agi certo, por ter ouvido o meu
    coração.” E a senhora Rosa resumiu a
    vida da mulher negra, da mãe-solo no
    Brasil. Críticas e mais críticas.


    Mas é isso, Rebeca brilhou, ganhou
    e deixou o mundo boquiaberto. Rebeca
    ganhou e o melhor do Brasil que eu amo
    ganhou com ela. Ganharam as mulhe-
    res negras que sobrevivem e deslum-
    bram, apesar do racismo que as quer
    mortas e do machismo que também as
    quer mortas. Ganharam as mães que lu-
    tam incansavelmente, embora o País se
    empenhe em massacrá-las. Ganharam
    as meninas que sonham e nos permi-
    tem sonhar juntos, apesar dos governos
    que se esforçam para destruir sonhos.
    Obrigada, Rebeca. Obrigada por
    tanto. Obrigada pelo imenso prazer do
    “chupa, Bolsonaro” que gritei quando
    você ganhou. E aí, monstro? Deu raiva
    ver uma “fraquejada” no topo do pódio?
    Deu raiva ver uma “afrodescendente
    que pesa 7 arrobas” no topo do pódio?


    Chupa, chupa e chupa. O Brasil é mui-
    to maior do que você. O Brasil é muito
    mais Rebecas do que Bolsonaros, sim.
    Obrigada, Rebeca. Obrigada pelo
    imenso prazer de poder rir na cara dos
    fascistas, dos violentos, dos que não su-
    portam a glória alheia porque só conse-
    guem chafurdar na sua mediocridade, e
    mais ainda, a glória de uma mulher ne-
    gra que representa o Brasil é o inferno
    para eles. Obrigada, Rebeca. Obrigada
    porque você representa o Brasil que amo
    e no qual acredito. Obrigada por nos fa-
    zer sonhar, obrigada por nos fazer cho-
    rar. São lágrimas que valem o mundo. •


    cartacapital. 

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