De alma lavada
"Lula enfrenta, em seu terceiro
mandato, uma correlação de forças muito
adversa. Foi eleito por uma frente ampla
para barrar a extrema-direita, mas
essa aliança heterogênea dificulta a implementação
de reformas estruturais. No
campo, convivem hoje três modelos de
produção. O primeiro é o latifúndio predador,
que explora os bens da natureza
– como florestas, água, biodiversidade e
minérios –, transforma tudo em mercadoria
e obtém lucros extraordinários. O
segundo é o agronegócio moderno, centrado
em cinco monoculturas – soja, milho,
cana, algodão e pecuária – voltadas
à exportação. Ele abusa de agrotóxicos,
degrada o solo e envenena até as chuvas,
mas ainda assim é tratado como símbolo
de progresso e concentra lucros em poucas
empresas. Por fim, temos a agricultura
familiar, voltada à subsistência dos
produtores, com o excedente direcionado
ao mercado interno. Ela produz mais
de 300 tipos de alimentos que, de fato,
chegam à mesa dos brasileiros. Quando
defendemos a reforma agrária, estamos
questionando justamente os dois
primeiros modelos, que são inviáveis a
longo prazo. A agricultura familiar é a
única alternativa sustentável: preserva
o meio ambiente, gera mais empregos e
mantém as famílias no campo. Hoje, ela
emprega 16 milhões de pessoas, enquanto
o agronegócio ocupa apenas 4 milhões
– dos quais só metade tem trabalho o ano
inteiro. O problema é que, dentro do próprio
governo, há defensores de cada uma
dessas visões. E, num projeto de desenvolvimento
que privilegie o capital e não
os alimentos saudáveis ou a preservação
ambiental, a agenda da reforma agrária
fica em segundo plano."
LEIA ENTREVISTA COM STÉDILE
FEITA POR MARIANA SERAFINI


