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  • O BRASIL EH O QUE ME ENVENENA MAS EH O QUE ME CURA (LUIZ ANTONIO SIMAS)

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    domingo, junho 08, 2025

    A literatura brasileira está morta

     

    ALEXANDRE COSLEI
     
    Sim, senhores e senhoras. A literatura brasileira está morta. Mas é uma morta bela, com batom nos lábios e vestidinho branco de primeira comunhão. Uma defunta perfumada. Enterrada viva entre os cadernos culturais e os editais públicos, sufocada sob camadas e camadas de autoficção e prêmios em que é preciso pagar para participar.
    E ninguém diz nada. Ninguém grita. Ninguém se escandaliza. No velório, todos sorriem — e aplaudem a falecida.
     
    * O narcisismo nosso de cada página
     
    Há algo de profundamente pornográfico nessa onda de autoficção que tomou conta da nossa pobre e desmilinguida literatura. Não se escreve mais romance. Escreve-se confissão. O autor se despe, se oferece, se esparrama no sobrado, esperando que o leitor o deseje — mas o leitor já não está na rua. Foi embora. Sumiu. Trocaram o livro pela pornografia real e sem metáfora.
    Cada livro novo parece um prontuário de terapia. Uma infância triste. Um pai bêbado. Uma relação mal resolvida com a avó, um abuso. E tudo isso escrito com um lirismo burocrático, um sentimentalismo de repartição pública. São personagens que não agem. Sofrem. Mastigam mágoas e cospem vírgulas.
    Literatura virou necrológio da alma.
     
    *Os escritores? 
     
    Antigamente os escritores tinham ideias que cheiravam a enxofre, tinham ousadia. Hoje, têm hashtags. São dóceis. Professores de si mesmos. Curadores de sua miséria. O autor brasileiro contemporâneo vive para falar de si, e quer aplausos por isso. Confunde literatura com sessão de desabafo no grupo de apoio.
    E, o que é mais grave: escreveram 200 páginas para dizer que sofreram. Mas quem neste país não sofreu?
     
    *A crítica? 
     
    A crítica — a crítica que deveria ser faca — agora é tapete. Reza, agradece e abençoa qualquer coisa que venha com o selo da diversidade e da dor íntima. E não é que essas vozes novas não sejam necessárias. São. São lindas. São importantes. Mas estão sendo jogadas no liquidificador da moda. Tudo virou uma estética da ferida. Tudo tem que ser denúncia. A literatura virou boletim de ocorrência com capa dura.
    E os críticos, em vez de discernir, aplaudem. Ficam constrangidos em criticar. Não querem parecer racistas, homofóbicos, misóginos, elitistas. E com isso, abdicam do seu papel.
     
    *O leitor? 
     
    O leitor brasileiro desapareceu. Não o vemos mais. Talvez esteja debaixo da cama, lendo escondido um velho clássico com vergonha. Talvez tenha virado youtuber. Talvez tenha morrido mesmo.
    Os números são de um velório: quase metade da população não lê. E quem lê, lê pouco. E quem lê muito, deve estar lendo em segredo. A literatura perdeu. Perdeu para o algoritmo, para o streaming, para a estupidez organizada. Ninguém mais quer frases. Querem slogans.
     
    *E o mercado? 
     
    As editoras todas se comportam como cafetinas bem-vestidas. Publicam apenas quem já tem seguidores, quem vende ou quem quer pagar pela publicação. Livros se tornaram produtos de vitrine — sem cheiro de papel, sem mofo, sem alma. O autor precisa performar antes de escrever. Ter um Instagram bonito. Um discurso palatável. Um trauma que vire marketing.
    O autor que ousa escrever um livro onde nada sangra, onde ninguém é minoria, onde há invenção estética e não causa social — esse está condenado ao silêncio. Nem resenha terá.
     
    *Conclusão
     
    Sim, meus amigos. O Brasil perdeu o ouvido. O ouvido para a grande frase. Para o diálogo que rasga. Para o monólogo que fere. A literatura era o espelho das nossas tragédias. Hoje, é a selfie das nossas ansiedades.
    Mas eu digo: ainda há esperança. Em algum lugar, talvez num casebre do subúrbio, há uma criança ou adolescente, lendo um livro velho, sujo, rasgado — e se apaixonando pela palavra. Quando esse leitor precoce escrever, talvez a defunta se levante. E a literatura brasileira volte a andar — meio manca, meio bêbada, mas viva.
    Até lá, fiquemos com o cadáver.

     

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