Vitoria de Wagner e Kleber em Cannes deprime quem joga Brasil no lixo
LEONARDO SAKAMOTO
Quando a seleção brasileira masculina levou o histórico 7 a 1, uma amiga lamentou-se comigo de que havíamos perdido a moral em algo no qual somos reconhecidamente bons diante do mundo. Pouco mais de dez anos depois, o Brasil mandou o domingo de Carnaval às favas e estava reunido para torcer pelo Oscar de Fernanda Torres e de “Ainda Estou Aqui”, cujo anúncio foi mais celebrado que um grito de gol em final de Copa.
Alegria parecida irrompeu quando Wagner Moura e Kleber Mendonça Filho ganharam os prêmios de melhor ator e direção no festival de Cannes pelo filme “O Agente Secreto”. Que não é um filme sobre ditadura, como o de Walter Salles, mas que denuncia a dificuldade de se ter uma vida digna e segura diante da corrupção e da violência daquele período.
Os dois filmes foram abraçados por críticos e audiências de outros países porque tratam de histórias universais. Dialogam tanto com o passado, mas também com um presente que insiste em repetir os mesmos erros. Agora, não mais como tragédia, mas como pornochanchada de baixa qualidade.
Deve estar sendo difícil para o pessoal que, apesar de se autoproclamar patriota, enrola-se feito panqueca na bandeira dos EUA, e costuma chamar a cultura brasileira de lixo, quando ela sobe ao mais alto degrau por sua excelência.
Enquanto o Brasil celebrou neste sábado, colocando o nome de Wagner Moura como um dos temas mais comentados no planeta, essa turma minoritária insistia que o Oscar e Cannes foram comprados por Lula com a ajuda de artistas pedófilos, bilionários comunistas e, claro, os illuminati. Ironicamente, são eles que estão tratando o Brasil como lixo ao negar, nublados por sua militância, que tenhamos a capacidade técnica de produzir filmes e atuações dignas desse reconhecimento.
É muito bom que o Brasil se acostume a torcer anualmente por seus filmes, como faz a cada quatro anos por sua seleção, e por atores do calibre técnico e humano de Wagner. Pois é triste depender de jogadores hedonistas, que não fazem jus aos que vieram antes deles, para serem o rosto do país no exterior .
UOL


