Sete pitacos AInda sobre a IA da vez:
RENATO LIMA
1) SE essa trend tivesse se originado de um app criado pelo próprio Estúdio Ghibli... não estaríamos tendo esse debate.
O ponto principal é que o cofundador do estúdio - mestre Miyazaki - é contra o uso das IAs (DE)generativas de "arte" e não houve autorização alguma para tanto.
Simplesmente uma Big Tech maliciosa passou por cima de direitos autorais e da propriedade intelectual para afrontar - de uma forma bonitinha - todos os artistas envolvidos.
E para lucrar em cima dos dados de quem usou. Não acredite que é DE GRAÇA.
2) Se você é REALMENTE um fã da obra do mestre Miyazaki, entenda que gerar uma imagem através dessa IA é um soco no estômago do seu ídolo.
Seria o mesmo que um sujeito que se diz cristão dar um tiro num motoboy ou um vegano comemorar aniversário numa churrascaria.
NÃO FAZ SENTIDO. É só hipocrisia. Ou FOMO. Ou ignorância.
Ou tudo junto.
3) Se você tem amigos/as/es ARTISTAS: escute o que eles tem a dizer sobre PROCESSO ARTÍSTICO.
Infelizmente, essa IA está sendo vendida como "democratização do talento" quando, na real, é uma apropriação de talentos de outras pessoas, de carne e osso. SEM REMUNERAÇÃO.
Essa IA é basicamente uma ferramenta que trabalha numa velocidade absurda com um banco de dados igualmente absurdo para criar algo baseado no que já existe.
Não é nem Arte derivativa.
E o mais importante: ela anula o PROCESSO, a CRIAÇÃO. Pois só importa que você chegue de imediato ao propósito final: o meme para postar na sua TL.
4) Ninguém é obrigado a ter letramento sobre ARTE. Nem sobre POLÍTICA.
Mas o abismo educacional é tanto que uma trend dessas - que atua nos dois aspectos - conseguiu juntar tanto os progressistas quanto os reaças num mesmo barco.
Todos unidos contra o lado mais fraco dessa história: os ARTISTAS.
Porque se não existe pudor de atacar um estúdio premiado, imagine sobre roubar a obra de um desenhista independente.
O mesmo para escritores, músicos, dubladores. E NÃO DÁ para defender bilionário, gente (nesse caso, as Big Techs).
5) Por quê o sucesso das IAs, então? É só lembrar do sistema vigente: NEOLIBERALISMO.
Se o cliente não tem grana MAS precisa de um ilustrador... utiliza a IA.
Se a agência não tem prazo MAS precisa de um desenho... utiliza a IA
Se o estúdio não quer contratar um músico para um jingle... utiliza a IA.
Se a produtora não tem grana para contratar um dublador... utiliza a IA.
O que importa - independente de qualquer questão ÉTICA ou ESTÉTICA - é entregar o produto.
O NEOLIBERAL NÃO QUER SABER DE ARTE. MUITO MENOS DE ARTISTAS.
Isso tudo aliado à um conformismo vigente de simplesmente aceitar o que a Big Tech te joga, a trend do momento. Sem questionar ou esboçar uma reação.
6) Para um ilustrador continuar num mercado assim - instável, inseguro, sem direitos e mal remunerado - terá que se render a valores irrisórios.
Isso se chama PRECARIZAÇÃO.
E a única solução só pode vir através de LEGISLAÇÃO (e sindicatos fortes).
Mas não é assim que funciona: PRIMEIRO você lança a tecnologia para depois pensar numa forma de freá-la. Já foi assim com o zap.
E a Justiça, como sabemos, não legisla a favor dos mais fracos (alô AGRO).
Então, acredito que minha carreira como STORYBOARDER esteja chegando ao fim.
E em breve teremos IAs emulando Ziraldo, Hergé, Moebius, Satrapi, Crumb e tantos gênios mais na cara de pau.
7) O consumo de energia foi tanto por conta dessa ÚNICA trend que fritou os servidores da OpenAI.
Uma das soluções que as Big Techs já estão implantando é reativar USINAS NUCLEARES. Entre outras opções bizarras.
Não tem como uma sociedade continuar a existir consumindo energia dessa forma.
Então temos que pensar no que é essencial.
Um MEME que plagia um Artista consagrado é tão importante assim na sua vida?