Governo Trump já abala organização do COP 30
JAMIL CHADE
A organização da COP30 (conferência do clima da ONU), que ocorrerá no final do ano em Belém, já é abalada pelo governo de Donald Trump. Os EUA deixaram o Acordo de Paris e promoveram um terremoto na política internacional, o que está obrigando o Brasil a adiar o anúncio de seu programa para o evento e eventualmente adaptá-lo diante das "novas circunstâncias".
A nova situação levou Brasília a iniciar consultas diplomáticas para coletar opiniões e posições de governos em todo o mundo, em um cenário inesperado de ruptura internacional criado pela Casa Branca.
Nesta quarta-feira, o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, fará um discurso na ONU, convocando governos de todo o mundo para relançar a "crença e entusiasmo" pelo multilateralismo como resposta à crise. Diante dos temas introduzidos por Trump na agenda global, haverá ainda um apelo para que o mundo trabalhe de forma coordenada.
O embaixador, na próxima semana, ainda publicará sua primeira carta aos governos, delineando os trabalhos e as prioridades para 2025.
Corte de recursos pelo mundo
Dentro do governo brasileiro, porém, a constatação é que "momento é desafiador". O problema não é apenas a decisão de Trump de sair do Acordo de Paris. A avaliação dos organizadores da COP30 é que, ao modificar sua política de segurança e a aliança com a Europa, Trump forçará governos do Velho Continente a gastar mais recursos com seus orçamentos militares e na compra e produção de armas.
A consequência poderia ser uma redução do dinheiro para a questão climática, inclusive na cooperação internacional. Diplomatas temem que, sem dinheiro, a agenda seja colocada em segundo plano.
De fato, nesta terça-feira, a União Europeia sinalizou a existência de um compromisso de US$ 800 bilhões para defender e reconstruir a Ucrânia, diante da invasão russa.
Se a negociação já vivia um clima negativo, o mal-estar foi ampliado nas últimas semanas. No governo brasileiro, existe a constatação de duas frustrações. A primeira é dos emergentes diante da realidade de cortes de recursos pelos EUA. Mas a segunda frustração é que, entre os países ricos, haverá uma pressão para que europeus, japoneses e outros cubram o buraco deixado pelos americanos nas contas do combate ao clima.
A isso tudo se soma o fato de que a ciência revela que o mundo tem muito pouco tempo para evitar um colapso climático.A avaliação é que, se há 25 anos, o mundo poderia esperar pelo final do governo Trump e eventualmente retomar a agenda climática, a crise atual não permite que esse período seja desperdiçado. Para a diplomacia, a janela de atuação está se fechando.
UOL