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    sexta-feira, fevereiro 14, 2025

    Jazz e Revolução

     


    ARNALDO BRANCO 

    Bateu: “Soundtrack to a coup d'etat” (2024)

    “Não é sobre jazz, é jazz” disse um crítico citado no trailer de “Trilha Sonora para um Golpe de Estado” — muito a propósito, porque esse documentário originalíssimo na verdade é sobre o assassinato de Patrice Lumumba (1925 - 1961), o primeiro ministro da República do Congo, mas editado como se fosse um longo improviso dodecafônico sobre apropriação cultural, imperialismo, Dwight Eisenhower, Fidel Castro, Nikita Kruschov e, sim, jazz. Tá entre os indicados ao Oscar mas eu só descobri isso depois de assistir, sou meio atrasildo das ideias quando o assunto é premiação.

    Esse bombardeio de imagens sensacionais serve a uma tese mais insinuada do que explicitamente desenvolvida. Segundo o diretor Johan Grimonprez, enquanto a guerra fria era disputada na África, com as primeiras manifestações pela independência das colônias insufladas pela União Soviética e sabotadas pelas potências ocidentais imperialistas, a CIA e o serviço de inteligência de seus países aliados promoviam shows de jazz no continente para servir de disfarce para a presença maciça de espiões e mercenários dispostos a tudo para manter o controle das riquezas africanas mesmo depois da desocupação do território.

    Não é sobre a cumplicidade dos músicos, que só descobriram anos depois que serviram de bucha pros arapongas das colônias, mas sobre quanto cinismo é necessário pra sustentar o projeto capitalista — que fica claro nos depoimentos de arrombados como Adlai Stevenson, embaixador dos Estados Unidos na ONU.

    Gênios como Charles Mingus, John Coltrane, Nina Simone, Dizzy Gillespie, Miles Davis, Melba Liston, Ella Fitzgerald (e mesmo o universalmente querido Louis Armstrong) estavam ligados em como os Estados Unidos tratavam a população negra desvalida em suas próprias fronteiras e no estrangeiro — revolucionários do quilate de Malcolm X e Andrée Blouin (a “Pasionaria Negra”) fizeram suas cabeças.

    E não tem só jazz: brilham vários artistas da música congolesa (rumba, soukous, mutuashi) como Nico Kasanda (o “Docteur Nico”), Le Grand Kallé e a orquestra Rock-a-Mambo.

    “Trilha Sonora para um Golpe de Estado” é uma colagem de imagens de arquivo, entrevistas, frases inseridas em legendas, áudios, em uma contagem regressiva que, presumimos desde o início, vai terminar com o sequestro e morte de Lumumba. É feito para instigar nosso instinto de rebelião, e nada melhor como som ambiente do que alguns dos compassos musicais mais revolucionários já escritos.

    Acompanhe Arnaldo Branco
    no Semana Praticamente Encerrada

     

     

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