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    segunda-feira, janeiro 13, 2025

    O projeto das big techs

     Big Techs agora têm um projeto de lei para proteger seus interesses

     BERNARDO MELLO FRANCO

    Deu no Financial Times: o homem mais rico do mundo quer derrubar o governo britânico. Elon Musk está conspirando contra o primeiro-ministro Keir Starmer. Pretende forçar sua queda antes das próximas eleições, previstas para 2029.

    O dono do X, da Tesla e da Starlink gastou mais de R$ 1,5 bilhão para ajudar Donald Trump a voltar ao poder nos Estados Unidos. Agora busca expandir sua influência política na Europa. Nos últimos meses, aproximou-se de diversos líderes de extrema direita. Prometeu conselhos e dinheiro, não necessariamente nesta ordem.

    Musk começou a atacar Starmer no dia em que ele completou um mês no poder. Era agosto de 2024, e protestos violentos tomavam as ruas do Reino Unido após o assassinato de três crianças. O governo trabalhista defendeu a responsabilização das redes sociais pela onda de desinformação que inflamou o país. Irritado, o bilionário escreveu que os britânicos estariam a caminho da guerra civil.

    Na virada do ano, Musk voltou à carga contra o premiê. Passou a acusá-lo de ter sido leniente com uma gangue de exploração sexual quando atuava como promotor. O caso tem mais de uma década, mas virou pretexto para o dono do X pedir a renúncia de Starmer. Antes de lançar a nova ofensiva, ele posou com dirigentes do Reform UK, partido nacional-populista que investe no discurso anti-imigração.

    Na maior economia europeia, o dono do X também tabela com a extrema direita. Virou garoto-propaganda do partido Alternativa para a Alemanha (AfD), investigado por ligações com neonazistas. “Só a AfD pode salvar a Alemanha”, tuitou Musk, às vésperas das eleições que definirão o substituto do chanceler Olaf Scholz. Nesta quinta, ele usou seu megafone virtual para promover a líder da sigla, Alice Weidel.

    Na semana que passou, chefes de governo do Reino Unido, da Alemanha e da França protestaram contra a interferência de Musk na política de seus países. O presidente francês Emmanuel Macron disse que o bilionário se aliou à “internacional reacionária” que tenta minar os pilares da democracia. A má notícia é que o amigo de Trump não está sozinho.

    O dono da Meta, Mark Zuckerberg, acaba de anunciar o fim dos mecanismos que coibiam as fake news em suas redes. Numa guinada para se alinhar a Trump, ele atacou as agências de checagem e chamou de “censura” as medidas pare frear o extremismo. O proprietário do Facebook e do Instagram diz defender a liberdade de expressão, mas está preocupado em defender o próprio bolso. Ao bajular o novo inquilino da Casa Branca, busca apoio para barrar a regulação das plataformas nos EUA e no resto do mundo.

    As grandes redes lucram com o discurso de ódio e com a mentira em escala industrial. Sabem que o radicalismo político atrai engajamento, o que gera mais dinheiro e mais poder. Como escreveu o professor Eugênio Bucci, as big techs têm um projeto claro: querem substituir a era da informação pela era da desinformação.

    GLOBO

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