Com cessar-fogo em Gaza, famiias voltam para casa com ossos de parentes
LEONARDO SAKAMOTO
Há muita gente voltando para casa no Norte de Gaza com o cessar-fogo. Estão trazendo feridos e mortos. Mas também ossos porque, após dois meses, é o que resta dos corpos dos parentes que morreram.”
A declaração foi dada à coluna por Mohammed Salha, diretor do hospital Al-Awda do campo de refugiados de Jabalia, norte da Faixa de Gaza, nesta segunda (20). Com o acordo entre o governo Netanyahu e o Hamas, muitos tentam voltar para o que sobrou da área mais destruída pelos bombardeios israelenses. Trazem os vivos, mas também seus mortos, por arma, fome ou doença.
Essa unidade de saúde foi a única a continuar funcionando em meio aos cercos do Exército, mesmo com a falta de recursos humanos, medicamentos e energia, além de ameaças, mortes e prisões de membros da equipe, nos 470 dias de conflito.
“Neste momento, não há bombas caindo nem tanques em volta do hospital. Mas temos que lidar com um imenso número de feridos, afirma o médico. “E as estradas ainda estão bloqueadas. Estamos agindo, em cooperação com organizações internacionais para trazer tratores a fim de reabri-las”, afirm
a Salha sobre a dificuldade dos feridos de chegarem ao hospital.
“E, além das estradas, também precisamos de ambulâncias, porque elas se foram”, lamenta, enquanto dá um suspiro diante da situação de calamidade.
Ao longo do conflito, ambulâncias foram alvo do exército, que as acusava de transportarem membros do Hamas. O governo Netanyahu também acusa os hospitais de esconderem centros de controle do grupo extremista.
Em 7 de outubro de 2023, o ataque terrorista do Hamas matou 1.139 pessoas em Israel, segundo o governo de Israel. Além de mais de 200 foram feitas reféns, que começaram a ser trocados por prisioneiros palestinos no cessar-fogo. A reação do governo de Israel foi a morte de mais de 47 mil pessoas (dos quais, mais de 18 mil crianças) desde então, segundo dados do Ministério da Saúde de Gaza controlado pelo Hamas.
Salha pede ajuda à comunidade internacional para que o hospital continue funcionando, dado que a quantidade de feridos que estavam na região está se somando àquela que, agora, vêm do Sul. Para ele, o cessar-fogo não é o fim de um drama, mas apenas mais um capítulo.
UOL