Temos um compromisso pela nossa existência na terra
Txai Suruí
TXAI SURUI
2024 foi marcado por eventos climáticos extremos que impactaram todo o Brasil. Entre abril e maio, o Rio Grande do Sul enfrentou a maior enchente já registrada no estado, resultando em cidades inteiras submersas. Mais de 2 milhões de pessoas foram afetadas e o número de mortes ultrapassou 180. Nesse cenário devastador, a solidariedade e a coragem da população foram essenciais para salvar vidas e acolher os atingidos. No entanto, essa tragédia não parece ter despertado a consciência necessária entre os sojeiros gaúchos, que com suas terras devastadas pelas enchentes agora se deslocam para Altamira, no Pará, para arrendar terras e aumentar o desmatamento, como denunciado pela reportagem da Sumaúma.
O Brasil registrou números alarmantes de queimadas. A Amazônia atingiu seu maior nível de incêndios em 17 anos, com cidades como Porto Velho, Rio Branco e Altamira enfrentando a pior qualidade do ar. O Cerrado registrou o maior índice de queimadas desde 2012, enquanto o Pantanal viu um aumento de 600% nos focos de incêndio nos primeiros dez meses do ano, em comparação a 2023.
O país enfrentou ondas de calor intensas e persistentes ao longo do ano, com todos os meses apresentando temperaturas superiores à média histórica. A seca severa afetou diversas regiões e importantes rios brasileiros, comprometendo o abastecimento de água e alimentos, além de prejudicar a produção agrícola, deixando comunidades indígenas e ribeirinhas isoladas. Essa situação contribuiu ainda mais para o aumento das queimadas ilegais, especialmente na Amazônia e no Pantanal.
Os povos indígenas viveram com muitos ataques e algumas vitórias. Esperançosos e aliviados com algumas demarcações, mas em constante vigilância diante das ameaças constantes, como o ainda terrível Marco Temporal e outras investidas contra seus direitos no Congresso e nos territórios. Infelizmente, muitos guerreiros e jovens foram assassinados por lutarem por suas terras ancestrais. Em abril, o Acampamento Terra Livre (ATL) celebrou 20 anos, reunindo milhares de indígenas em Brasília em defesa de seus direitos e da democracia, exigindo a continuidade da demarcação de seus territórios.
Nas artes, o coletivo Mahku (Movimento dos Artistas Huni Kuin) ganhou destaque internacional ao participar da 60ª Bienal de Veneza, apresentando uma obra monumental que retrata os mitos de origem de seu povo. Em setembro, o Brasil celebrou o retorno do manto tupinambá, um ancestral vivo desse povo milenar que foi roubado e esteve por três séculos na Dinamarca.
As mulheres indígenas seguem na linha de frente contra as mudanças climáticas, como Shirley Krenak, que vem denunciando através do cinema o crime que a Vale cometeu contra o seu povo e que matou o Rio Doce.
Este ano foi considerado o mais quente já registrado, apresentando os desafios que temos pela frente. Ano que vem a COP30 acontecerá em Belém e temos a oportunidade de liderar por ações ambientais e de justiça climática mais ambiciosas, mas este é um compromisso para além das COPs e independentemente delas. É um compromisso pela nossa existência na terra.
FOLHA