Morte de Ryan, 4 anos, explica por que muitos inocentes temem policia em SP
LEONARDO SAKAMOTO
Ryan, de apenas 4 anos, morreu com um tiro de fuzil na barriga durante uma ação policial, em Santos (SP), enquanto jogava bola com o irmão e os amigos em frente à sua casa. O pai dele, Leonel Andrade, já havia sido morto, no começo deste ano, em outra operação policial na mesma comunidade pobre — tinha uma deficiência física e usava muletas. A tragédia em dois atos mostra o que acontece quando um governo enterra a inteligência.
Samira Bueno, diretora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que foi ao enterro de Ryan, diz que João se sente culpado pela morte do irmão porque não teria tirado ele do local. Crianças não deveriam se sentir culpadas por mortes durante uma ação policial. Quem precisa pedir desculpas é o governador Tarcísio de Freitas e o secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, por não serem capazes de protegê-las.
Óbvio que os policiais envolvidos não foram à comunidade com a intenção de matar Ryan, mas ao serem executores da política paulista, que, assim como as políticas baiana e fluminense, tem na letalidade policial um foco central, sabem que isso pode acontecer em confronto com criminosos. Eles mesmos acabam se colocando em risco por conta disso, matando e morrendo.
Além do pedido de desculpas, o governo de São Paulo precisa explicar a morte de um menino de quatro anos, não ficar irritado com quem cobra explicações. Ao ser questionado sobre o caso e criticado pela codeputada Paula Nunes, Derrite disse que a parlamentar fazia “vitimismo barato” usando a morte do menino para fazer politicagem. O que é uma ironia, porque São Paulo é que vem adotando a morte como política de Estado. E isso sai caro para muita gente.
Enquanto crianças morrem em comunidades pobres, pelas mãos da polícia e do tráfico, São Paulo vai sendo controlado pelo PCC – que virou uma máfia e descobriu que desviar dinheiro público pode ser mais seguro que fazer logística de cocaína.
Parte da população festeja mortes aceitando sem questionar o julgamento sumário trazido pela bala: se a pessoa morreu pelas mãos da polícia é porque era culpada de algo. Que culpa tem Ryan além de ter nascido em um estado despreparado para lidar com vidas?
(📷 Samira Bueno)