Execução descarada em aeroporto mostra que Brasil caminha para narcoestado
LEONARDO SAKAMOTO
A execução de Vinícius Gritzbach, delator do PCC, no terminal 2 do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, uma área de segurança, à luz do dia, mostra que estamos caminhando a passos largos para nos tornarmos um narcoestado.
Gritzbach é réu por lavar dinheiro do tráfico de drogas para o PCC através da compra de imóveis, postos de gasolina e criptomoedas. Para reduzir sua pena, ele havia fechado um acordo de delação premiada, entregando esquemas de lavagem da facção, mutretas com agenciamento de jogadores de futebol e até corrupção de policiais e delegados.
É preciso sublinhar o que aconteceu: o maior aeroporto do país e um dos maiores do mundo, principal porta de entrada para visitando ao país, que recebeu 41,3 milhões de passageiros em 2023, foi palco de, ao que tudo indica, uma operação de vingança ou de queima de arquivo que não se importou com a multidão que lá estava. Como isso, houve outros três feridos. O motorista de aplicativos Celso de Morais foi baleado nas costas e levado à UTI, Willian Santos, funcionário de uma terceirizada do aeroporto, foi atingido na mão e no ombro e Samara de Oliveira ficou ferida superficialmente no abdômen. A imagem que isso reforça ao Brasil e ao mundo é de criminosos sentem-se à vontade de fazer o que querem na hora que desejam, com a certeza da impunidade.
Moradores das periferias podem retrucar que isso acontece com eles diariamente, com as mortes causadas pelo tráfico de drogas, por milícias ou por policiais — e terão toda a razão. Mas o fato de uma execução ocorrer em um local que, teoricamente, é um dos mais seguros do país, monitorado pelas Polícias Federal e Militar, mostra mais do que ousadia e audácia. Aponta a certeza de eles veem o país como território deles.
E enquanto isso, crianças, como Ryan, de apenas 4 anos, morrem em em uma comunidade pobre de Santos (SP), durante uma operação policial, após seu pai, uma pessoa com deficiência física que usava muletas, também ter sido morto em outra operação policial há nove meses, mostrando o fracasso das políticas de alta letalidade de Estados como SP, RJ e BA. O tempo para evitar que nos tornemos um narcoestado está acabando.
UOL