Como Oscar Bolão passou no teste do surdo em Mangueira
CARLOS DIDIER>>
"Na hierarquia da Mangueira, a autoridade suprema na bateria era Mestre Waldomiro: Saratoga era apenas um substituto. Leci Brandão defendia sua música no Palácio do Samba, a nova quadra da escola, quando Oscar subiu e tomou conta de um surdo. Dos grandes. De início, a bateria ficava muda, e Waldomiro, com a cabeça enfiada no alto-falante, apito na boca, aguardava a hora de dar a entrada. De repente, sem ordem do diretor, o repique executou o toque de chamada. Bolão, seguindo o falso comando, fez o surdo vibrar. Metade da bateria entrou, metade ficou de fora.
Waldomiro saiu de dentro do alto-falante. Furibundo, correndo desajeitadamente, pois mancava de uma perna, aplicou ao músico do repique o castigo mangueirense: uma bordoada com a baqueta na cabeça do infrator. Bolão analisou a situação e disse para si mesmo: — Agora sou eu... Estou morto...
De fato, em seguida, o mestre partiu em sua direção. Olhou bem dentro de seus olhos: — Tudo bem, você tá certo! Pode ficar aí... Esse filho da puta é que deu a entrada sem eu mandar!
Por dentro, todo medo; por fora, cheio de moral. Com Waldomiro na banca examinadora, Oscar passou no teste do surdo. São diferentes os diplomas do samba".
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("Oscar Bolão, doutor em samba", de Carlos Didier; em "Batuque é um privilégio", de Oscar Bolão)
(Mestre Waldomiro de apito na boca, foto; Avante, Mangueira!, fb)
(Oscar Bolão, foto; Bem Blogado, saite)