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    sexta-feira, novembro 15, 2024

    Atentado explode momento Trump de Bolsonaro

     

    Estátua da Justiça vendada iluminada, como o prédio do Supremo atrás, e um corpo estendido no escuro à frente
     

    IGOR GIELOW 

    O bolsonarista que tentou atacar o Supremo prestou um duplo desserviço à causa a que servia. Primeiro, jogou um balde de fogo quente no ímpeto pela anistia do 8 de Janeiro. Segundo, renovou a exposição do DNA da turma no momento em que ela procura normalização.

    Com isso, perde acima de tudo Jair Bolsonaro (PL), o ex-presidente que havia tentado emprestar a legitimidade das urnas americanas a seu ídolo, Donald Trump, e empregá-la em seu próprio favor.

    No raciocínio de Bolsonaro, se tal coisa é estruturada assim, a vitória inequívoca de Trump antecipava o clima de 2026 e a inevitabilidade da reversão não da pena dos condenados pela intentona de 2022 em Brasília, mas sim de sua própria inelegibilidade.

    O argumento da anistia tem eco até no PT, como prova a fala do vice-presidente da sigla, Washington Quaquá, de que ela poderia "reconciliar o país" —sugerindo aí a utilidade de ter Bolsonaro no páreo em 2026 para Lula.

    O histórico de vaivéns das convicções do Supremo, prisão em segunda instância que o diga, dava argumentos para o campo bolsonarista crer que a anistia de seu líder era possível, ainda que não houvesse sinais de fato disso no campo jurídico.

    Importa pouco: para Bolsonaro, se Trump voltou, ele voltará. A votação expressiva do campo conservador e de centro nas eleições municipais, apesar e não por causa do ex-presidente, foi igualmente sequestrada pela retórica da acomodação.

    Faltou combinar com seus apoiadores, formados por franjas radicalizadas como a de Francisco Wanderley Luiz, que resolveu se explodir quando viu que não conseguiria danificar nem a estátua da Justiça vendada à frente do Supremo.

    O malabarismo argumentativo de Bolsonaro e outros depois do ataque mira o raciocínio de que Luiz era um maluco motivado pela injustiça do mundo à sua volta, cujo ataque inspira "reflexão".

    Qualquer indivíduo que decide se explodir em público é merecedor de apoio psicológico, é evidente, mas daí a torná-lo uma versão do Coringa de Todd Phillips, vivido pelo oscarizado Joaquin Phoenix no filme de 2019, é um exagero desmedido —mesmo com o equivocado roteiro que vitimizava o vilão.

    A comparação com outro malvado da DC, o Charada do "Batman" de Matt Reeves (2022), parece mais precisa. Ali, a justificativa por assim dizer moral e social dos atos do terrorista era exposta como psicopatia, ampliada pela toxicidade do ambiente.

    No filme B em curso em Brasília, a tragédia do candidato derrotado a vereador pelo PL de Bolsonaro em 2020 acaba por expor as cores envergadas pelo pessoal da "festa da Selma". Violência política, algo que nunca deixou a paisagem brasileira, é normalizada entre eles como um meio lícito.

    Quem nunca ouviu de um conhecido algo como "tinha de matar todos esses políticos"? Por óbvio, 99,9% de quem profere esses vitupérios não mataria nem uma formiga, mas os restantes da equação, como Luiz, talvez.

    Se o incidente da quarta (13) não retira da discussão a severidade das penas de Alexandre de Moraes ou os eventuais abusos da sua cruzada contra o golpismo e as fake news, certamente o ministro do Supremo sai com fôlego renovado do episódio.

    Sua fala nesta quinta (14) sugere a combatividade por vir, sendo péssima notícia para um Bolsonaro que, como sempre na garupa de Trump, buscava acelerar rumo a 2026.

    FOLHA

     

     

     

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