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    sexta-feira, setembro 27, 2024

    Viver por escrito: o país e a política na obra de Armando Freitas Filho

     

     O poeta Armando Freitas Filho em sua casa, na Urca

     Bernardo Mello Franco

     No início dos anos 1950, Armando Freitas Filho surpreendeu o pai com um pedido inusitado. Queria que Carlos Lacerda fosse seu padrinho de crisma. O fundador da Tribuna da Imprensa já havia trocado o comunismo pelo direitismo. Tempos depois, o menino faria o caminho inverso. “Eu o imitava em sentido contrário e passei a ler a Última Hora, de Samuel Wainer. Meus pais conservadores não me recriminavam”, recordava.

    Quando lançou o primeiro livro, “Palavra” (1963), o jovem poeta já se identificava como militante de esquerda. No ano seguinte, o golpe interromperia os sonhos de sua geração. “Tomei um nojo dos militares por 21 anos”, recordou, em ensaio publicado em “Só Prosa” (2022). 

     Ao longo da ditadura, os poemas de Armando ecoaram o clima pesado no país. Em “Sociedade Anônima” (1970), ele desafiou a censura ao retratar a repressão: “Pressões e prisões/ pessoas perdidas protestam,/ o povo pulsa no asfalto:/ pop — população palpita e explode/ punhos de pólvora e pânico, no ar”.

    Em “Corpo de Delito” (1979), misturou as estrofes do Hino Nacional com a dor dos presos políticos: “Daqui escuto os passos dos gigantes/ pisando, impávidos, a paisagem./ Escuto a marcha dos colossos/ por cima dos ossos”. Em “As Paredes Têm Ouvidos” (1982), ligou o ufanismo canarinho à brutalidade dos porões: “E salve a seleção/ salve-se quem puder/ pois de repente/ é aquela corrente/ nos pés”.

    A política não definiu a vasta obra de Armando, mas é impossível compreendê-la sem conhecer suas ideias. Devorador de jornais, o poeta nunca deixou de usar o noticiário como matéria-prima. Nos últimos anos, escreveu versos engajados contra o impeachment de Dilma, a prisão de Lula, a ascensão de Bolsonaro.

    No livro “Arremate” (2020), também desabafou sobre a violência do Rio. “Nenhuma bala é perdida./ Todas alcançam o alvo mais imprevisto — útero/ escudo, esconderijo escuro/ onde uma criança cresce”, escreveu, quando o menino Arthur Melo foi baleado na barriga da mãe.

    O autor de “3x4” (1985) envelheceu sem jamais perder a capacidade de indignação. Ao completar oito décadas de vida, refletiu sobre o passar do tempo: “Fazer 80 anos é terrível./ Uma espécie de mistura/ de alegria e tristeza/ de um beijo e de um adeus”. Ele doou seu acervo ao Instituto Moreira Salles, onde esperava “continuar vivendo por escrito”.

    Armando partiu ontem, aos 84 anos, celebrado como um dos maiores poetas brasileiros. Carioca da Urca, deu o último suspiro no alto da Gávea, no mesmo hospital em que morreu seu padrinho de crisma. 

     

    O GLOBO

     

     

     

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