O VÍRUS DO TIGRINHO
"Estudos recentes completam o quadro
de desafio à saúde pública e à economia
nacional. Um deles, do Banco Itaú, mos-
tra que em um período de 12 meses os bra-
sileiros gastaram 68,2 bilhões de reais em
apostas online. Outro, encomendado pela
Confederação Nacional de Dirigentes Lo-
jistas (CNDL), assustada com o impacto
já percebido no mercado varejista, apon-
ta que 86% dos apostadores estão endivi-
dados e 64% deles negativados no Serasa.
Em um país onde 43% da população afir-
ma não ter segurança financeira, a con-
sultoria PwC do Brasil mostra que hoje,
para as duas classes da base da pirâmide
social, as apostas já equivalem a 76% das
despesas mensais com lazer e cultura e a
5% do que é destinado à alimentação. Pes-
quisas estão sendo realizadas para men-
surar também o impacto das bets e dos ti-
grinhos no orçamento destinado à educa-
ção das famílias brasileiras.
Indutoras do vício e da compulsão, as
propagandas ilegais das casas de apostas
online são também a porta de entrada para
o cometimento de crimes. Neste mês, ga-
nhou destaque no Brasil a prisão pela Po-
lícia Civil de Pernambuco da advogada e
influenciadora digital Deolane Bezerra,
acusada de criar um site de apostas para
lavar dinheiro proveniente do jogo do bi-
cho e de outras atividades do crime orga-
nizado. Segundo os investigadores, ao me
os 30 milhões de reais foram movimen-
tados pela empresa Esportes da Sorte, da
qual Deolane é garota-propaganda.
O dono da bet é Darwin Filho, filho do
bicheiro pernambucano Darwin Henri-
que da Silva, e a sede da empresa fica em
Curaçao, paraíso fiscal caribenho a 4 mil
quilômetros de distância do Recife. Além
da possibilidade de apostas esportivas as
mais variadas, o site permite acesso ao
onipresente Jogo do Tigrinho. A polícia
investiga a entrada do dinheiro do bicho
e de outras apostas ilegais na empresa e
sua utilização em contratos publicitários
e aquisição de imóveis e carros de luxo.
Além de Deolane, que recebia da
Esportes da Sorte, segundo as
investigações, uma remune-
ração mensal de 1,6 milhão de
reais, a Operação Integration
apontou a participação do
cantor sertanejo Gusttavo Lima, que te-
ve 20 milhões de reais bloqueados pela
Justiça. Sua empresa, a Balada Eventos e
Produções, é suspeita de integrar um es-
quema de lavagem de dinheiro para sites
de apostas ilegais. Lima, que foi alvo de de-
núncias de shows superfaturados em cida-
des pequenas do interior do Brasil durante
o governo Bolsonaro, é garoto-propaganda
da Vai de Bet, empresa do empresário pa-
raibano José André da Rocha Neto, tam-
bém envolvido em denúncias de manipu-
lação de resultados em partidas de futebol."
MAIS NA REPORTAGEM DE MAURICIO THUSWOHL