Jogo do Tigrinho ganhou na loteria ao tratar os brasileiros como otários
LEONARDO SAKAMOTO
Não existe dinheiro fácil. Mesmo enganar internautas para roubar senhas de contas bancárias em uma quadrilha em Goiás exige alguma dedicação. Mas há quem ignore essa máxima e acredite que todo mundo pode ficar rico, basta ter o “mindset” adequado. Neste caso, jogar compulsivamente.
O Brasil está a um passo de regulamentar a jogatina digital, o que vai incluir caça-níqueis viciados como o Jogo do Tigrinho e outras enganações. Neles, a máxima do cassino convencional (“a banca sempre vence”) é elevada à enésima potência porque está acessível a um celular de distância. Vai ser um massacre.
Quem diria que uma sociedade com milhões de pessoas com pouco dinheiro no bolso e despreparada para a jogatina se viciaria na promessa de dinheiro fácil, não é mesmo? Piores do que os bingos, que levaram ao adoecimento psíquico de muita gente, as bets e jogos de azar online já estão demandando os nossos serviços de saúde, despreparados para lidar com essa dependência.
A Justiça em SP determinou o bloqueio de 15 sites de jogos de azar virtuais, como a farsa do Tigrinho, que prometem retornos rápidos aos jogadores. A ação, por mais que queira colocar ordem no galinheiro, vai apenas enxugar gelo. Em outro caso, a influenciadora Deolane Bezerra, que foi presa e, agora, vai cumprir prisão domiciliar, teria aberto uma bet parta lavar dinheiro de jogos ilegais.
Com a regulamentação na boca do forno, essas plataformas vão poder operar legalmente a partir do começo do ano que vem.
Muitos estão de olho nas receitas que vão vir dos jogos de azar e dos cassinos que serão erguidos. Dizem que isso trará empregos, impostos e anúncios, praticamente ignorando o tamanho da encrenca em saúde pública que a epidemia em jogos já está trazendo. Os brasileiros que estão se endividando e até cometendo suicídio? Fodam-se.
No final das contas, as bets e casas de apostas vão lucrar dezenas de bilhões, sugando os trabalhadores com uma promessa vazia, até transformá-los em bagaço para o Estado cuidar.]
UOL