A pipa da TV não sobe mais?
"Na morte de Silvio Santos, logo depois de passarmos pela Revolução do Baixo Clero que foi o golpe de 2016, e dos quatro anos de desmandos de um Tiozão do WhatsApp na presidência, é compreensível o desejo da morte de um padrão que rapidamente associamos à falta de modos, decência talvez. Mas essa associação esconde um traço muito importante do desejo de morte à televisão. Há uma armadilha: o ódio aos pobres. Silvio Santos sabia muito bem comunicar-se com os pobres. Assim como sabia também ser servil aos ricos para a conivência com os seus interesses econômicos. Mas o SBT não tinha uma rede constituída de senadores e deputados federais como afiliados, não foi a figura central no combate à democratização da comunicação, bem como, um olhar mais cuidadoso à programação, verá pontos importantes de inclusão social na história da sua programação. Enquanto Chacrinha, na Globo, cantava “olha a cabeleira do Zezé”, terminando com uma exaltação à violência física, “corta o cabelo dele! Corta o cabelo dele!”, o Concurso de Transformistas invadia a sala das famílias com cor, brilhos e alguma representatividade. Podemos dizer o mesmo sobre as “colegas de auditório”, mulheres pobres que se sentiam representadas naquelas brincadeiras das tardes de domingo e não nas empregadas domésticas com uniforme branco dando conta de todas as vontades das Helenas do Leblon de Manoel Carlos.
Não se trata aqui de “passar pano” para a criatura que expunha
crianças à sexualização precoce tanto quanto Raul Gil, também da grade
do SBT. Trata-se de perceber que há um incômodo seletivo no rápido asco a
Silvio Santos, assim como à TV aberta em geral, que está entranhado no
asco aos pobres e ao que é popular. Daí confundir o repúdio ao discurso
de ódio com o ódio à televisão e ao rádio. A precarização da TV aberta
em todo o mundo tornou o discurso de ódio uma ferramenta imprescindível
para a sua sobrevivência. O que havia de mídia estatal no mundo foi
minguando e, por outro lado, o financiamento por publicidade se mostrou
inviável nos contextos locais. O que sustenta uma TV aberta ou uma rádio
em pequenas cidades? O minguado comércio local? Não! O dinheiro da
política, essencialmente. Se o discurso de ódio midiático tem berço nos
traços socioeconômicos hereditários da formação da nossa sociedade, não
podemos deixar de mencionar que os mesmos senhores que são donos de
terras no Brasil, são também donos de mídia. Vai-se o Silvio Santos,
ficam as outorgas e todas as outras posses de gente que um dia foi dona
de gente e de gente que costuma achar que muita gente não é gente."
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