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    domingo, agosto 18, 2024

    Qual o maior problema de sua cidade; Educação, Saude, Hamas ou Maduro?

     

     


    LEONARDO SAKAMOTO 

    Escolas sem papel higiênico, falta de remédios em postos de saúde, quadras e parques jogados às traças, creches em quantidade insuficiente, transporte público caro, acúmulo de lixo e sensação de insegurança são desafios de muitas cidades. Mas para uma parte do eleitorado o principal tema a ser discutido nas eleições municipais é o terrorismo do Hamas ou a violência de Maduro. Sejam em debates na TV, em brigas nas ruas de grandes cidades ou em propaganda eleitoral (ilegalmente antecipada), a impressão é que estaremos escolhendo um ministro das Relações Exteriores ou um secretário-geral das Nações Unidas, em outubro, e não alguém para cuidar dos problemas do território em que vivemos.

     
    É grave a situação no Oriente Médio após o ataque terrorista do Hamas deixar mais de 1.100 mortos em Israel e a resposta do governo de Benjamin Netanyahu ser um crime de guerra com quase 70 mil cadáveres em Gaza. Da mesma forma, é extremamente preocupante que o governo de Nicolás Maduro esteja escondendo as atas eleitorais que provariam o resultado da eleição e reprimindo violentamente os protestos da oposição.

     
    Mas transformar os dois temas em assuntos centrais do pleito municipal interessa a 1) quem não é capaz de produzir um debate qualificado sobre as demandas da população da cidade em que deseja ser prefeito ou vereador; 2) a grupos interessados em excitar o eleitorado mais radical, acordando a ultrapolarização existente, para ser instrumentalizado na campanha. Em ambos os casos, perde o interesse da cidade.

     
    Essa estratégia é, claro, hipócrita porque quando tratamos de Gaza/Israel e Venezuela, estamos falando de violações a direitos humanos. Ironicamente, muitos dos mesmos grupos e personagens que cobram um posicionamento sobre os direitos humanos fora do Brasil são aqueles que pisam nos direitos humanos aqui dentro com discursos misóginos, homotransfóbicos, fundamentalistas e violentos. Precisamos falar de direitos humanos sim, o respeito desse mínimo civilizacional lá fora, mas também aqui dentro, nos municípios. Só que falar sobre soluções para fora é muito mais fácil.


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