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    quinta-feira, agosto 29, 2024

    Pablo Marçal quer criar um partido para disputar as próximas eleições no Brasil

     Pablo Marçal durante convenção do PRTB que confirmou sua candidatura à prefeitura de São Paulo

     Malu Gaspar

     As conversas de Pablo Marçal com Carlos e Jair Bolsonaro, que desencadearam um movimento de desembarque do bolsonarismo da candidatura de Ricardo Nunes (MDB), não foram só sobre as eleições para a prefeitura de São Paulo. Pelo que ele próprio antecipou aos Bolsonaro e seus interlocutores, o plano de Marçal vai bem além, e envolve a criação de um partido próprio formado por "candidatos-coaches" para disputar a eleição no país todo, a partir de 2026. 

    Esse foi um dos chamarizes usados por Marçal para convencer os Bolsonaro de que seria melhor pular para o barco dele. O coach está convencido de que não só vai ganhar a eleição paulistana como sairá dela forte o suficiente para montar um partido que lhe dará a possibilidade de disputar a presidência em 2026 – e que não seria a sua atual legenda, o PRTB.

    De acordo com interlocutores dos Bolsonaro que acompanharam as negociações, intermediadas pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), Marçal disse aos Bolsonaro que pretende criar um grande partido de direita para fazer frente à esquerda em 2026.

     Segundo esse plano, que vem sendo desenhado pelos auxiliares mais próximos de Marçal, o partido ofereceria treinamento semelhante aos que o coach vende em seus cursos para pessoas interessadas em disputar eleições. Esses cursos ensinariam as pessoas a ganhar voto assim como faz o candidato do PRTB - fortemente baseado em vídeos nas redes sociais e um discurso aspiracional e de auto-ajuda.

    O "método Marçal de ganhar eleições" exigiria, por exemplo, que o candidato fizesse pelo menos um post com vídeo por dia, e arrebanhar um número determinado de seguidores a cada período, para ir avançando no treinamento e na estrutura do partido. Fala-se inclusive em cobrar uma taxa mensal dos aspirantes a políticos.

    Aliados de Marçal a quem procurei nesta manhã confirmam que o plano existe e está sendo desenvolvido, mas dizem que o coach não pretendia falar sobre isso ainda porque ele está muito "incipiente".

    Para atrair os Bolsonaro para a sua órbita, porém, foi suficiente.

    Logo depois da conversa ao telefone, Carlos Bolsonaro, a quem o coach chamou repetidamente de "retardado" nos últimos dias, disse que o coach tinha sido "muito educado e bacana". ".Expusemos nossos pontos e fico feliz em ter a consciência que queremos rumar nas mesmas direções quando falamos de Brasil", escreveu ele.

    É uma guinada radical em relação à posição adotada pelo ex-presidente e seus filhos na semana passada, quando eles partiram para cima de Marçal. O movimento foi capitaneado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro, que chamou o coach de "arregão" por se recusar a participar de uma entrevista para não ter que falar do ministro do STF Alexandre de Moraes. Nos vídeos que postou em suas redes, ele citou ainda as reportagens do Estadão sobre o envolvimento de membros do PRTB com o PCC e sugeriu que o coach estaria tentando roubar o eleitorado do pai. O próprio ex-presidente chegou a dizer que Marçal não tem caráter.

    Ontem, porém, depois da conversa entre o coach e Carlos e de uma troca de mensagens revelada pelo próprio Marcal, Bolsonaro divulgou um vídeo dizendo que tinha aberto espaço para ele no palanque do ato que os bolsonaristas farão no dia 7 de setembro na avenida Paulista.

    Não por coincidência, a pesquisa Quaest divulgada nesta quarta-feira mostrou que, entre julho e agosto, a fatia de eleitores de Bolsonaro em São Paulo que aderiram à candidatura de Marçal passou de 28% para 39%. Enquanto isso, a proporção de bolsonaristas que declaram voto em Ricardo Nunes caiu de 36% para 33%, e os que pretendem votar em José Luis Datena (PSDB) caiu de 16% para 11%.

    Os números refletem uma tendência que já vinha sendo notada pelos Bolsonaro nas redes sociais, entre seus seguidores, e que pelo jeito preferiram não contrariar. O movimento de agora pode não ser definitivo, mas por ora o coach que antes padecia de "falta de caráter" passou a ser um sujeito bacana.

    Procurado, Marçal negou ter plano de fundar um novo partido e disse não falou sobre o assunto nas conversas. A coluna mantém as informações publicadas

    O GLOBO



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