O centro político não existe
"Centro é conceito tão definidor de orientações políticas quanto chamar alguém de “progressista”, ou de “populista”. São palavras que valem para tudo, em qualquer tempo e lugar, próprios da feroz guerra ideológica desatada após a queda do socialismo real. São termos – e não conceitos – mais ligados ao comportamento do que a visões estruturantes do mundo. Ser de centro ou ser progressista não classifica nada e nem ninguém, mas são palavras simpáticas para adjetivar tendências políticas “do bem” (outra expressão inócua). “Populista”, de outra parte, seria quase um xingamento.
O mote dos anos 1990 era dizer que as distinções de direita e esquerda estariam superadas. Samuel Huntington foi um dos que deu feitio acadêmico ao advogar que a partir dali, “A fonte fundamental de conflitos (…) não será principalmente ideológica ou econômica (…) será cultural”. Ou seja, a ordem internacional não estaria mais em pauta, mas questões religiosas, étnicas, de costumes etc. Para usar um conceito tido como antiquado, a luta de classes estaria superada como contradição principal no que o pensador estadunidense classificava como “novo mundo”.
O problema desses rótulos genéricos é gerar confusão e ajudar a naturalizar diferenças e nuances políticas, como se tudo fosse uma geleia geral. Inclusive o fascismo, que seria um “populismo nacionalista” no dizer dessa novilíngua pasteurizante."
leia análise de GILBERTO MARINGONI