Guilherme Derrite: O homem e seu passado
"O caso ocorreu no Jardim Arpoador, bairro paulistano quase na divisa
com Osasco. Os três assaltantes foram mortos. Na soma, levaram nove
tiros. O policial que mandou o rapaz de 15 anos ao IML era um tenente da
Polícia Militar do Estado de São Paulo. Chamava-se Guilherme Muraro
Derrite. Tinha 27 anos, estava no segundo ano de trabalho na Rota, a
tropa de elite da PM paulista, e gostava de dizer que sua missão era
“tirar vagabundo de circulação”. Ficou quase doze anos na PM, entrou
para a reserva como capitão, elegeu-se e reelegeu-se deputado federal e
foi vice-líder do governo de Jair Bolsonaro na Câmara. Hoje, é
secretário da Segurança Pública do governador Tarcísio de Freitas
Os demais homicídios ocorreram num perío-
do de três anos e nove meses de patrulha-
mento ostensivo, entre fevereiro de 2008 e
novembro de 2011, época em que Derrite
integrou o 14º Batalhão e, depois, a Rota.
Não significa, frise-se, que Derrite tenha
matado as dez pessoas, pois os inquéritos
nem sempre apontam o autor do disparo
fatal, mas que participou de ações poli-
ciais que resultaram nesse saldo de mor-
tos. É uma média alta: um morto a cada
quatro meses e meio. Nos documentos,
chama a atenção como a dinâmica dos
homicídios se repete, com pequenas varia-
ções. Em todos os casos, as vítimas atiram
contra os policiais, mas nunca acertam.
Em todos os casos, são atingidas em ór-
gãos vitais, como coração ou pulmão. Em
todos os casos, são homens e já tinham, à
exceção de uma vítima cujo histórico po-
licial não foi confirmado, ficha por roubo
ou uso de drogas, ou então passaram pela
Fundação Casa, que abriga jovens que
cometeram alguma infração. E em rarís-
simos casos há testemunhas civis dos fatos.
Considerando que na vida real con-
frontos entre policiais e bandidos nunca
se passam da mesma forma, a repetição
do padrão é um mau indicador. As ce-
nas sugerem que nem sempre houve
confronto, dada a improbabilidade de
que os criminosos tenham um índice
de 100% de erro nos disparos. Também
sugerem que quase nunca houve tiros
de advertência, pois os disparos dos po-
liciais acertaram regiões vitais. Eis a fi-
cha do secretário de Segurança:"