Desastres como o do RS têm potencial para furar bolha do negacionismo
Celso Rocha de Barros
Quem mente que não há aquecimento global tem tudo para ser popular. Afinal, está dizendo para o público que ninguém precisa fazer nada, que o problema não existe. A preguiça muitas vezes faz ideias ruins que não dão trabalho parecerem boas.
Além disso, é fácil mentir que o Brasil será mais rico se for possível plantar mais perto dos rios, se for possível fazer pastos ou minas onde hoje há florestas. O sujeito que desmata tem um benefício tangível para si, mais soja, mais minério, e ainda pode apresentar isso como "riqueza para o Brasil".
É mais difícil explicar que o dano ambiental pode reduzir nosso potencial de crescimento permanentemente. Mesmo sendo óbvio que o Brasil não é pobre porque tem poucas plantações ou minas, mas sim porque a produtividade de nossa economia é baixa.
Quem não desmata reduz o risco de enchentes e secas para todo mundo: com uma ou duas tragédias como a gaúcha evitadas, já economizaríamos mais patrimônio (para não falar em vidas) do que com uma nova mina.
Mesmo assim, um quilo de minério é mais fácil de visualizar do que uma queda de 20% no risco de seu filho ser tragado pela enchente. Especialmente se a turma que desmata puder contar com políticos e influencers que vão te fazer desconfiar de quem sabe fazer essa conta.
Desastres como as enchentes do Rio Grande do Sul têm potencial para furar a bolha do negacionismo. Um quilo de minério é mais palpável que uma queda no risco de desastre. Mas Porto Alegre inundada é ainda mais palpável que toneladas de minério.
Por isso os negacionistas estão tentando desesperadamente fazer com que a conversa sobre a tragédia no Sul seja sobre qualquer outra coisa que não o que importa.