Começou com música: Os 50 anos da Revolução dos Cravos em Portugal
"Mas é que 25 de abril de 1974
foi o dia mais feliz da minha vida. Passa-
ram cinquenta anos e continuo a sentir o
mesmo. Há qualquer coisa que se passou
aqui, com uns gajos com umas armas,
vivências, vontades, aspirações. O 25 de
Abril não é só o Maia. O Salazar havia
morrido, o Marcello Caetano, que tinha
prometido mudanças, a chamada Pri-
mavera Marcelista, não avançou com as
promessas, eram treze anos de Guerra
Colonial em que jovens como o Salguei-
ro Maia perceberam que eram carne para
canhão. O que chocou o Maia tanto em
Moçambique como na Guiné foi sentir o
desdém com que os portugueses brancos
tratavam os militares [negros, mobilizados
nas próprias colônias]. Ele deixou de acre-
ditar naquela ideia do Portugal indivisível.”
Gomes continua: “Havia ainda essa
política de prender estudantes opositores
do regime e os enviar para servir na Áfri-
ca, eles doutrinaram os jovens militares.
O regime degenerou, estava fraturado
entre os ultradireitas e os que queriam
mudanças. Nesse quadro, surgem os mi-
litares jovens, que ouviam as fitas casse-
tes das canções dos músicos proibidos
em Portugal antes de irem para a batalha
matar. Foi um conjunto de fatores que se
encontrou no inconformismo dos milita-
res que sabiam que não podiam ganhar
a guerra, queriam uma saída, queriam o
fim do regime, mas não queriam ficar
no poder. E esta é a diferença em com-
paração a tantos outros golpes. O 25 de
Abril é este mar, esta torrente que se for-
ma e vai desaguar no Terreiro do Paço e
termina aqui.”"
LEIA REPORTAGEM DE SIMONE DUARTE