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    quinta-feira, abril 25, 2024

    Os primeiros dias da Ditadura

     

     

     

    SERGIO AUGUSTO

     Na única rede social que frequento, um seguidor solicita detalhes sobre a reação de nossa mídia ao golpe cívico-militar que hoje e amanhã completa 60 anos. À exceção da Última Hora de Samuel Wainer, a adesão da mídia à derrubada de Jango foi total. As manchetes viraram hosanas.

    Convocou-se um timaço: Alceu Amoroso Lima, Antonio Callado, Otto Maria Carpeaux, Rubem Braga, Sérgio Porto, Otto Lara Resende, Carlos Heitor Cony, Barbosa Lima Sobrinho, Joel Silveira, Moacir Werneck de Castro, José Carlos Oliveira - todos posteriormente molestados por censores e outros esbirros da ditadura. O que os golpistas batizaram, levianamente, de “revolução” e o debochado humorista Sérgio Porto, o mais lido da época, de “redentora”, Cony preferiu chamar de “revolução de caranguejo” (por só andar pra trás). Também a galhofa semântica estava apenas começando.

    Até hoje a caserna golpista teima em referir-se ao putsch de 64 como “movimento” e eufemismos de comparável cinismo. O general Braga Netto, por exemplo, ainda um pirralho quando o general Mourão Filho precipitou a tomada do poder pela gorilada, aprendeu na AMAN, mesma alma mater de Bolsonaro, que o regime militar foi “um marco na evolução política do País”, balela em que só os mais fanáticos viúvos da “redentora” acreditam. Na verdade, foi só um março na involução política.

    Em seus primeiros contatos presenciais com a quartelada, Cony e seu vizinho de quarteirão e jornal, o poeta Carlos Drummond de Andrade, se encontraram por acaso numa esquina da Avenida Atlântica, onde, juntos, se espantaram com um grupo de recrutas (“gloriosos herdeiros de Caixas”, ironizou Cony) a montar uma patética barricada de paralelepípedos contra uma eventual reação inimiga. Estava oficiosamente inaugurado o Febeapá (Festival de Besteira que Assola o País).

    Drummond gozou, de modo oblíquo, o besteirol “revolucionário”. Destacou a brevidade do texto do primeiro Ato Institucional, com quatro artigos e um parágrafo, comparando-o ao da Constituição do Estado Novo, a ditadura anterior, e seus 187 artigos. A redação, a seu ver, ficara ao menos mais concisa. “Salve o estilo!”, louvou o poeta.

    ESTADÃO


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